quarta-feira, junho 15, 2005

Da importância de Scott Walker

Hoje faço um pequeno desvio no fio condutor que tinha estabelecido para o blog, mas trata-se de uma mera questão estratégica, e nem vai alterar o seu perfil. Amanhã, retornará onde agora me desvio.
É que queria hoje falar de Scott Walker, na minha óptica, um dos nomes mais importantes e uma das maiores influência de muita da música que hoje se faz, e que, ao longo dos anos, tem sido injustamente esquecido.
Em contra ciclo com a British Invasion, desembarcaram em Londres para tentarem a sorte que lhes fugia nos EUA, quatro rapazes, um que tomara o nome artístico de P. J. Proby, personalidade extravagante que conseguiu uma ascensão meteórica, mais graças às suas bizarrias que propriamente ao seu talento musical, e de que falarei mais tarde, e três jovens de Los Angeles que formaram um grupo, os Walker Brothers.
A figura dominante era, sem dúvida, o seu vocalista, Scott, possuidor de uma voz extraordinária, e, como se provaria daí para a frente, dono de um sofisticado gosto nas orquestrações. O grupo não duraria muitos anos, embora tenham tido vários hits nos tops britânicos e americanos, como o que serve de soundtrack para hoje, Make it Easy on yourself, ou The Sun ain’t gonna shine anymore, e Scott decide-se por uma carreira a solo
Scott tem uma personalidade introspectiva, por vezes, quase sombria, e a sua música é o espelho disso. Mas é também reflexo do seu gosto distinto, do seu cuidado com as palavras.
Aqui, cabe uma nota para referir, que, na minha opinião, as letras das canções só começaram a ter preponderância a partir do aparecimento de Bob Dylan (nessa vertente, os franceses funcionavam ao contrário). Até então, salvo uma ou outra excepção, eram rudimentares, quase sempre uns versos de amor um bocado básicos até, e que não passavam mero acessório para demonstrar as qualidades vocais.
Mas com Scott, a palavra é importante. E a escolha é criteriosa. Tanto, que Jacques Brel, sempre tão avesso a versões noutras línguas das suas músicas, quando Scott lhe enviou algumas das versões que tinha feito, acedeu com muito agrado a que o músico norte-americano gravasse um Álbum, magnífico, assinale-se, que se chama “Scott Walker sings Brel”, com músicas suas, cantadas em inglês.
Talvez por nunca ter condescendido com o facilitismo e com as vontades comerciais das discográficas, a sua carreira não teve a fulgurância que mereceria. Mas os músicos que foram por si influenciados, de Nick Cave e Marc Almond a Neil Hannon (Divine Comedy), de David Sylvian e Mick Harvey a Cousteau, aí estão para atestar as suas inegáveis qualidades.
Ouça-se Hannon ou Liam McKahey, e em seguida Scott Walker, e verificar-se-á que, em muitos casos, as influências se estendem mesmo ao timbre de voz e à maneira de cantar.


Scott, na minha óptica, tem sido ao longo de décadas, menosprezado. Mas a mim, tem-me acompanhado sempre, e fica-me a satisfação por ver que ainda hoje ele é exemplo para muitos músicos

Banda sonora: Make it easy on yourself, The Walker Brothers

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