A música que Deus ouve; ou a Devil´s Music?
Por muito que derive e ande perdido por outras músicas, é certo que volto sempre aos “blues”, porque no final, eles é que são “the real thing”.
Tenho passado por muitas fases da música anglo-americana. De umas gostei, de outras nem tanto. Mas boas ou más, poucas renegam a fonte onde foram beber, e considero (opinião pessoal, é óbvio), que as melhores foram buscar inspiração aos blues. Podem os blues não terem a complexidade da música erudita, mas são eles a verdadeira música da alma.
Como uma vez referi, para mim a melhor fase dos Stones foi aquela dos primeiros tempos quando Brian Jones ainda era vivo e era nítida a influência dos grandes bluesmen nos seus álbuns. É por isso que os álbuns dos Stones vão desde "The Rolling Stones - England's Newest Hit Makers", até "Get Yer Ya-Ya's Out", este último de 1969. Nenhum mais após, porque definitivamente nunca mais me convenceram os rumos que tomaram.
Aliás, os mais interessados sabem que Bill Wyman após o abandono dos Stones, fez aquilo de que já tinha há muito tempo vontade: formou com outros amantes dos blues, como Peter Frampton, Albert Lee e Gary Brooker, um grupo chamado Bill Wyman’s Rythm Kings”, que, com colaborações esporádicas de outros nomes grados dos “blues”, tem gravado alguns álbuns de boa qualidade.
E como estes, outros têm, aqui e ali voltado às origens.
Admirar-se-ão os mais novos ou os menos atentos, que há úmas épocas atrás, para músicos como Keith Richards, Mick Jagger ou Eric Clapton, era um sonho tocar com Sonny “Boy” Williamson, Lightnin’ Hopkins, Taj Mahal ou B.B. King. Hoje todos conhecem os primeiros, (“os alunos”, digamos), mas poucos conhecem realmente os “mestres”.
Uma vez referi aqui que só em meados do anos 60 se começou a ligar verdadeiramente às líricas, dando-se até então mais atenção á vertente melódica. E acredito que tenha sido essa prioridade que originou o aparecimento de grandes virtuosos, de prodígios da guitarra que hoje praticamente se tornaram abencerragens num mundo em que tudo se faz da maneira mais fácil e em que os computadores tudo facilitam. Lá aparece um ou outro que nos dá prazer ouvir, mas o panorama é o de um céu quase vazio de estrelas persistentes, abundando mais as cadentes.
E é assim que, ouvindo eu muitas músicas, acabo sempre por regressar ao local do “crime”. Porque ainda há coisas insubstituíveis: o virtuosismo de B.B. King (que o diga o Rui Veloso que ia morrendo de emoção quando foi convidado para tocar em dueto com o velho mito quando ele cá esteve), a guitarra de Bo Diddley ou a cadência de Muddy Waters.
Um dia li que os blues são a música que Deus ouve. Keith Richards falou de “Devil’s Music”. Não sou muito de esoterismos, mas lá que a música dos velhos negros norte-americanos tem algo de sobrenatural, lá isso tem.
E entende-se porque muitos músicos de hoje lhes chamem gigantes: é natural que a seu lado se sintam anões.
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