One Hit Acts
Ao mesmo tempo, as constantes convulsões musicais que varriam a velha Inglaterra principalmente após a erupção a nivel mundial dos Beatles e outros que constituíram aquilo a que se designou de British Invasion - entre os quais Stones, Animals , Manfred Mann ou Pretty Things, mais dedicados ao Rythm’n’Blues; Kinks, Hollies ou Ivy League num registo mais “pop” - deu origem ao florescer de uma miríade de grupo, a maior parte deles, de existência efémera, mas suficientemente importante para que a história musical dos 60 se possa fazer, ignorando-os.
É a esses grupos (ou solistas), que chamei “one hit act”, uma vez que a sua passagem pelas tabelas de vendas se resumiram a um grande êxito, desaparecendo - ou quase - de seguida.
Quem pretenda fazer um flash-back mais ou menos objectivo sobre esses anos e aqui restringi-me às tabelas inglesas, dificilmente poderá ignorar nomes com Gerry and the Pacemakers, cujo “You’ll never walk alone”(1º lugar dos tops em 31/10/63) se transformou em lema de clubes de futebol, ou do “Have I the right”(27/08/64), dos Honeycombs, single que, curiosamente, foi lançado em Portugal como Ep, que tinha no outro lado do disco o super-hit dos Kinks “You really got me”.
Na galeria dos efémeros, mas incontornáveis, poderia mencionar o “World without love”(23/04/64) da dupla Peter&Gordon, que se manteria um par de anos no circuito comercial, mais graças à sua ligação a Paul McCartney, que namorava então a irmã de Peter, Jane Asher, “Tobacco Road”(09/07/64), dos Nashville Teens ou “Game of Love”(04/02/65), de Wayne Fontana and the Mindbenders.
Sem pretender ser exaustivo, menciono os que passaram pelo lendário “Em Órbita”, grande divulgador - embora bastante criterioso nas escolhas - dos tops anglo-saxónicos, “Concrete and Clay”, dos Unit 4+2, em 1965, ano em que Barry McGuire explodia com o seu “Eve of Destruction”, uma das primeiras “protest songs”.
De 66, é digna de registo a meteórica carreira nos tops de Crispian St.Peters, que entre Janeiro e Março, teve 2 grandes êxitos: “You were on my mind” e “The Pied Piper”. Do mesmo ano, o primeiro grupo espanhol a chegar ao top 10, os Los Bravos, com o super-hit “Black is Black”(30/06)
e um grupo cuja música retro animou muitos bailes lisboetas, os New Vaudeville Band, que também num curto espaço de tempo tiveram 3 canções a atingirem os tops: “Winchester Cathedral”, “Peek-a-Boo” e “Finchley Central”. Acrescentarei de que não me lembro de um único grupo português de então, que não tocasse o “Winchester Cathedral”.
1967 foi indubitavelmente o ano de Scott McKenzie e da música mais identificada com o Summer of Love: “San Francisco (be sure to wear some flowers in your hair)(09/08/67)”. Na boleia, os Flowerpot Men, surgem com um “Let’s go to San Francisco”(23/08/67), que não chega a alcançar o nº1, mas quase (4º).
Outra música a marcar o ano é “The Letter”(13/09/67), dos BoxTops, cujo vocalista, Alex Chilton, acabaria por sobreviver ao desaparecimento do grupo, e transformar-se em figura de culto.
O ano seguinte, iniciar-se-ia com três enormes sucessos de vendas, “Judy in Disguise”, de John Fred and his Playboy Band, "Everlasting Love”, dos Love Affair, onde pontificava o vocalista Steve Ellis e “Green Tambourine” de uns Lemon Pipers a navegarem na onda psicadélica.
No fim desse ano, surgiriam dois actos - bastante diferentes entre si, mas ambos, digamos…exóticos quanto baste): The Crazy World of Arthur Brown, com “Fire”(26/06/68) e Scaffold, com “Lilly the Pink”.
Este último grupo, tinha como particularidade o facto de dele fazer parte Mike McCartney, irmão do beatle, e que para não ser acusado de usar o famoso apelido para alcançar a fama, mudou o nome para Mike McGear. O grupo usava um humor muito inglês nas suas canções, actuava muito ao estilo “vaudeville“, e além de Lily, teve ainda mais um êxito, “Thank U very much”, mas a crítica sempre os considerou de gosto duvidoso, e a verdade é que um dos nomes adoptados para o agrupamento, “the Liverpool One Fat Lady All Electric Show”, enfim…
O último ano não foi, neste aspecto, muito marcante, embora tenham surgido um par de grupos interessantes nos tops, embora de passagem rápida, nomeadamente os Amen Corner, do vocalista Andy Fairweather Low com “Half as Nice”, Thunderclap Newman, com “Something in the air”, ou “Love grows” - que conheceu várias versões - dos Edison Lighthouse.
Dos três, os Thunderclap, um grupo produzido por Pete Townshend (The Who) seria o mais interessante, embora o seu tempo fosse breve.
Claro que pelo meio destes, outros terá havido a gozarem os seus 15 minutos de fama que constitui a ascensão aos tops. Mas esses, não fazem parte da minha história.
Se alguém quiser acrescentar algo, está à vontade…
11 Comentários:
Ora vamos lá por partes:
1.Não posso considerar o grupo de Gerry Marsden propriamente um "one hit wonder". "How Do You Do It" e "I Like It" foram #1 e "Ferry Cross The Mersey" foi grande sucesso nos USA em 1965, talvez por ser de Rodgers e Hammerstein (opereta "Carrosel").
2. Definitivamente, "Blonde On Blonde". Com tudo o que isso tem de subjectivo, considero-o o 2º melhor álbum de sempre (o 1º é "Pet Sounds").
3. "Tobacco Road" tem algo em comum com "O Calhambeque" do Roberto Carlos. Um doce se adivinhar o quê.
4.Ora aqui está alguém que conhece a Ivy League de Carter e Lewis! Curiosamente são os mentores dos Flowerpot Men.
5. O original de "Eve Of Destruction" é de P. F. Sloan. Tenho para ali um LP dele (em vinil) que vale a pena ouvir, embora a Rolling Stone o desvalorize. Se não tem, tente a Amazon, of course.
6. Não quer juntar os "Them" aos grupos + influenciados pelo R&B?
7. O "Crazy world"... é mtº mau!!!
8. Scott McKenzie's S. Francisco é um original de John Philips, que aliás toca na gravação, tal como a lindíssima Michelle.
9. Mais uns "one hit wonders": Pinckertons Sssorted Colors - "Mirror, Mirror" e "The Royal Guardsmen" - "Snoopy vs The Red Baron"
É sempre bom ter com quem falar destas coisas!!!
Um abraço
JC
Corrijo: "You'll Never Walk Alone" é que é de Rodgers & Hammerstein. As minhas desculpas.
JC
Este comentário foi removido pelo autor.
Então vamos lá, caro Jc :-)
1 - Concordo quanto ao Gerry. E possivelmente, o Ferry cross the mercy até terá tido mais sucesso que o You'll never walk alone. Mencionei-o porque na Grã-Bretanha o seu único single no top foi o que referi. Mas com efeito, e se tivermos em conta a época, a sua carreira nem foi assim tão meteórica como o texto pode sugerir.
2. Como afirmei, o Blonde on Blonde é uma das possibilidades. (É-me dificil nomear um nº1, embora tenha a tentação de escolher o White Album, mas esses 2 estão definitivamente no meuu top 5)
3.Ambas as canções são de John D. Loudermilk. O Calhambeque é uma cover.
4. Ivy League! O que eu passei para arranjar um álbum deles! Um dos meus grupos favoritos na altura. Um dos melhores jogos de vozes que conheci, juntamente com os Beach Boys. Embora algo diferentes, pode-se dizer talvez que os Flowerpot Men foram um prolongamento dos Ivy.
5.Já não me recordava que o Eve of Destruction era do P.F.Sloan
6. Claro! Os Them - Gloria e Baby, please don't go são memoráveis -, juntamente com os Yardbirds! Grandes grupos!
7.Era mesmo mauzito. Mas tenho o disco!
8. Exactamente. Aliás, aquilo é Mamas and papas chapado. Scott pertencia ao inner circle de Philips. Ah! pois...a Michelle. Que ainda é uma belíssima mulher.
9. Esses são dois que só não relacionei, para não tornar o post demasiado extenso e maçador. Mas até haveria outros. "Good Lovin'" dos Young Rascals, "It's Good News week", dos Hedgehoppers Anonimous, "Friday on my mind", dos Easybeats. E também uns a atirar para o pimba, como o "Baby come back" dos Equals, remember?
Igualmente! é então um prazer mútuo!
Um abraço
Mais umas notas:
1. Bravo para o Loudermilk!!!Há pouco tempo (quer dizer, uns 10 anos!) comprei um CD dele, com o "Road Hog", na "Feira da Ladra".
2.Tenho um LP da Ivy em vinil, um "Best Of" comprado na Saturn de Colónia há uns bons 20 anos. Mas há 2 anos comprei em Londres um duplo CD da "Sequel". Completíssimo! Recomendo-lhe, portanto.
3. Os Hedgehoppers acabei por tirar da net, já que não valia a pena comprar um CD só por uma faixa. O produtor era o Jonathan King, de "Everyone's Gone To The Moon", que o "Em Órbita" passava com frequência.
4. Mais dois "one hit...": Whistling Jack Smith: "I Was Kaiser Bill's Batman" e Crazy Elephant: Gimme Gimme Good Lovin'". mas há centenas.
5. Como curiosidade, o "Black Is Black" foi o single mais caro que alguma vez comprei, ainda no tempo do vinil. Custou-me USD 60, em 1980 e tal, numa loja de discos usados em Carmine Street, NY!!
abraço e parabéns pelo blog
JC
1. Só conheço mesmo por ser autor de umas musiquetas. Mas nem nunca sequer ouvi o Loudermilk
2.Muitos dos meus vinis estão inaudíveis! Aqui há uns anos, como não queria deixar de ouvir o que gosto, decidi-me a refazer a minha discoteca em duplicado com cd's. Muitos, mandei-os vir da Alemanha - a Milestone Mailorder tem um catálogo muito bom, e há uns anos atrás os preços eram excelentes - outros da CDNow e de um site inglês que vende online de que agora não me recordo o nome, e tinha um enorme catálogo, sobretudo da SeeForMiles. Foi de lá que mandei vir essa colectânea dos Ivy League - Major League (Sequel) e todas as gravações do P.J.Proby, que era doido, mas tinha coisas muito curiosas. Como nunca tinha visto nada dele à venda por cá, excepto um cd relativamente recente, na antiga loja da Virgin, mandei vir.
3. Acho essa música do Jonathan King uma maravilha!
4. Pois há. Passou-me uma quase imperdoável: Turtles - Happy Together. Mas aqui é discutível, uma vez que os Turtles ainda tiveram uns anitos de vida e uns sucessos menores.
5. Bem! $60 por um single é mesmo muito! Isso não dei eu pelo 1º álbum dos Travelling Wilburys, que também comprei online e em 2ª mão (mas impecável)
Um abraço
Vic
Excelente artigo, delicioso de se ler. Que memórias! Até há pouco tempo, julgava que só eu é que gostava destas coisas ou que era picuinhas deste jeito. Ainda não vi os comentários, para não me influenciar, mas tenho alguns reparos a fazer ao artigo, o principal dos quais tem a ver com a sua estrutura.
O que designa por "one hit acts" é o que é commumente chamado "one hit wonders".
Ora eu acho que os nomes que refere - sei lá, Gerry and the Pacemakers, Wayne Fontana and the Mindbenders, Peter and Gordon, Ivy League, Flowerpot Men, até mesmo Box Tops, Scaffold, por aí - alcançaram um estatuto superior ao de "one hit acts".
Concedo que possam ser, digamos, uma "segunda linha", mas isso já inclui critérios subjectivos - por exemplo, adoro Wayne Fontana and the Mindbenders, provavelmente muito mais do que muitos conhecidos.
Como sabe, há até colectâneas dedicadas aos verdadeiros "one hit wonders" com nomes - esses sim - de que só se ouviu falar uma vez ou pouco mais. Por exemplo: Congregation, Young Idea, Cougars, Naturals, Love Sculpture, Sounds Nice, Tony Merrick, Bedrocks, Locomotive, Paramounts, Frijid Pink, Crying Shames, sei lá.
A prova provada do que digo é que você será capaz de escrever um artigo bem interessante sobre Scott McKenzie, Crispian St Peters ou Box Tops. Agora, escreva lá um sobre os Naturals!
Concluindo, se me permite a discordância, o seu artigo - muito bem escrito e documentado aliás, como já nos acostumou - não tem muito a ver com o tema que lhe quis emprestar.
Agora vou ver os comentários.
Luís
Ó meu Deus! O que há a escrever sobre os comentários. Tanta coisa! Vou dormir sobre o assunto e escrevo amanhã. Para já, só deixo uma nota: tenho o single original de vinil dos Hedgehoppers Anonymous, "It's Good News Week", influenciado pelo "Em Órbita", claro está. Eles nunca gravaram um álbum, mas não descansei até arranjar um CD, até porque se dizia por cá que o Mike Sergeant tinha lá estado (não esteve). Vejam bem, que só este ano consegui arranjar um CD dos Hedgehoppers Anonymous (ah, ah! julgava que só eu é que os conhecia - não conheço ninguém que os conheça!) num site húngaro. Pomposamente chamado "Complete Collection" é uma ultra-rara edição sul-africana. Jonathan King - que era um doido - chegou a fazer parte da banda que era, aliás, de ex-membros da RAF. Ui, tanta coisa para dizer.
Até amanhã
Luís
Meu caro Luís,
Agradeço o comentário, que apreciei devidamente.
Mas o que pretendi escrever foi precisamente o que escrevi. Nunca gostei muito de etiquetagens, mas suponho que se utliza essa expressão "one hit wonders" para se designar aqueles grupos que só gravaram um disco e possivelmente só eram conhecidos na rua deles (creio que a palavra "wonder" aqui será traduzível por "curiosidade"). Ora o meu texto não é disso que trata.Aliás, é por si referido a dada altura que:
"Agora, escreva lá um sobre os Naturals!"
Ora conforme refiro no post:
"...deu origem ao florescer de uma miríade de grupo, a maior parte deles, de existência efémera, mas suficientemente importante para que a história musical dos 60 se possa fazer, ignorando-os.
É a esses grupos (ou solistas), que chamei “one hit act”, uma vez que a sua passagem pelas tabelas de vendas se resumiram a um grande êxito, desaparecendo - ou quase - de seguida."
E aqui fica vincada a importância que lhes atribuo, mas não só: refiro que tiveram pelo menos um grande "hit", isto é, que chegaram a nº1 dos tops britânicos, ou quase. O que não me parece ter acontecido com os famigerados "wonders".
Acrescentaria também, que se reparar, não incluí os Ivy League nos "one hit acts", ao contrário do que refere na sua resposta. Até porque os Ivy são uma das minhas grandes referências do pré-psicadelismo.
Quanto ao resto, não está em questão o estatuto dos grupos mencionados (também eu apreciava a música do Wayne Fontana, aliás, gostei de quase todos eles). É antes, pelo menos em alguns casos, um lamento por terem desaparecido tendo deixado tão pouco, quando se acreditava que teriam futuros promissores
Cao Luís:
1.De acordo quanto aos seus comentários, excepto quanto aos FlowerPot Men que considero mesmo um "one hit wonder". Quanto ao resto, a Rolling Stone tem uma lista deles (saliento, por gostar bastante, "Book of Love" dos
Monotones e "My Boy Lollipop" de Millie Small) mas os nomes desconhecidos que indica não os posso considerar como tal, por demasiado desconhecidos nunca tendo algum dos seus temas atingido especial notoriedade. Há um filme interessante s/ o assunto, com o Tom Hanks a fazer de produtor de uma banda "one hit wonder", "That Thing You Do". Mas v. deve ter visto.
2. Tb já tinha ouvido falar dessa história do Mike Sergeant, não me lembro onde. Não estou certo que o J. King alguma vez tivesse pertencido á banda (de facto, constituída maioritariamente por membros da RAF), mas foi, isso sim, seu dinamizador e produtor. Já agora, hedgehoppers significa em português "os que fazem voo rasante" (não sei se existe uma palavra no léxico aeronáutico para o traduzir), o que tem que ver com a petença à RAF, claro.
Cumprimentos
JC
Meu caro JC
Estive mesmo para incluir a Millie Small, mas depois optei por me restringir à denominada invasão britânica. E claro que faltou acrescentar ainda os Merseybeats, mas esses nem pero dos tops chegaram
Um abraço
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