Assim se aprendia Inglês
Os estertores do ano de 63, trouxeram a edição do 1º disco dos Beatles em Portugal - curiosamente um EP que não incluía aquele que tinha sido o 1º hit do grupo de Liverpool, o “Love me do”, que seria editado mais tarde - e esse acontecimento abriria portas a descobertas extraordinárias para um meio até então fechado, e ao qual tudo o que chegava, tinha passado uma série de crivos incontáveis.
Em 1964, nos primeiros passos do FM em Portugal, nasceria o percursor do “Em Órbita”, o “Ritmo 64“, programa emitido na frequência modulada do Rádio Clube Português,das 21,15h até uns minutos depois das 22h. Foi aí que ouvi pela 1ª vez os Zombies de Rod Argent, e o extraordinário P.J. Proby, de que já aqui falei, capaz das maiores excentricidades, sempre exaltadas pelo Pedro Castela, muito atento - felizmente - a tais originalidades.
E mais alguns nomes que seriam importantes daí em diante, chegaram por seu intermédio aos meus ouvidos: Manfred Mann, Animals ou Kinks. Mas verdadeiramente, 64 foi o ano do cimentar da carreira dos Beatles, que chegariam ao Natal à frente das tabelas de vendas com “I Feel Fine”, aquela pequena obra-prima de inventiva, que começava com uma das mais famosas distorções de guitarra de todos os tempos.
Beatles - I Feel Fine
Foi nos finais desse ano, e graças precisamente ao meu interesse crescente pela música que ouvia, e consequentemente, da necessidade em ter acesso às líricas das canções, que verdadeiramente comecei a saber Inglês. No ano anterior, aluno do 3º ano do Liceu Normal de Pedro Nunes (7º ano de escolaridade, na actualidade) e que era o da iniciação à disciplina de Inglês, tivera um professor chamado Pequito, que podia ter jeito para tudo, menos para ensinar. O homem regressara nesse ano da Guiné, vinha de uma realidade muito diferente e tinha hábitos pouco ortodoxos. Para ser sincero, nós, os alunos, também não lhe facilitáramos a vida, sabe-se como os adolescentes podem ser cruéis. Resultado: passei para o 4º ano a saber pouco mais que zero. Consequência: no ano seguinte apanhei um professor exigente e vi-me enrascado.
Foi nos finais desse ano, e graças precisamente ao meu interesse crescente pela música que ouvia, e consequentemente, da necessidade em ter acesso às líricas das canções, que verdadeiramente comecei a saber Inglês. No ano anterior, aluno do 3º ano do Liceu Normal de Pedro Nunes (7º ano de escolaridade, na actualidade) e que era o da iniciação à disciplina de Inglês, tivera um professor chamado Pequito, que podia ter jeito para tudo, menos para ensinar. O homem regressara nesse ano da Guiné, vinha de uma realidade muito diferente e tinha hábitos pouco ortodoxos. Para ser sincero, nós, os alunos, também não lhe facilitáramos a vida, sabe-se como os adolescentes podem ser cruéis. Resultado: passei para o 4º ano a saber pouco mais que zero. Consequência: no ano seguinte apanhei um professor exigente e vi-me enrascado.
Entretanto, descobri numa tabacaria do Rossio, uma revista inglesa chamada FABulous, que por acaso trazia na capa uma foto dos Them, o grupo de Van Morrison, e uma das minhas grandes referências de então - ouvia o single Gloria “n” vezes por dia - e comprei-a.
Them - Gloria
Era a primeira vez que via uma revista que se dedicava exclusivamente à música feita na Grã-Bretanha e fiquei impressionado, tal a quantidade de informação, uma coisa absolutamente nova para mim. A partir de então, tornei-me leitor compulsivo da revista e o meu inglês foi progredindo, também ajudado pela correspondência que mantinha com uma inglesinha do Berkshire e uma alemã de Hannover. Ao mesmo tempo, passei a estar a par e passo com o que se passava pela swingin London, afinal, o olho do furacão musical que tudo varria.
Terminado o liceu e feito o balanço, cheguei à conclusão que o inglês que sabia, e que era bastante razoável, 50% devia-o á leitura de revistas inglesas, 30% à correspondência com as raparigas estrangeiras, e só 20% ao que tinha aprendido no liceu. Como nota curiosa, acrescentaria que certa vez, utilizei um termo aprendido numa das revistas, que não fazia parte do léxico da professora: veio-me perguntar o que queria dizer aquilo, porque procurara em 2 dicionários e não conseguira encontrar a palavra. Acho que devia ser “calão” londrino.
Terminado o liceu e feito o balanço, cheguei à conclusão que o inglês que sabia, e que era bastante razoável, 50% devia-o á leitura de revistas inglesas, 30% à correspondência com as raparigas estrangeiras, e só 20% ao que tinha aprendido no liceu. Como nota curiosa, acrescentaria que certa vez, utilizei um termo aprendido numa das revistas, que não fazia parte do léxico da professora: veio-me perguntar o que queria dizer aquilo, porque procurara em 2 dicionários e não conseguira encontrar a palavra. Acho que devia ser “calão” londrino.
Nota: -Se se derem ao trabalho de ouvir uma gravação dos Stones dessa época, por exemplo o "It's all over now", notarão muitas semelhanças na forma de cantar de Jagger, com a do Van Morrison de então.
4 Comentários:
Depois de ler textos e estórias assim, vou arrumar as botas. Não estou cá a fazer nada. Vou prègar para outra freguesia!
Tenho uma fraca memória do "Ritmo 64". Consegue mais pormenores? Quem o fazia? Quem o locutava?
"Love Me Do" foi o 3º discos dos Beatles em Portugal. Só saiu a 26 de Março de 1964.
"I Feel Fine" é tido como o primeiro "feedback" da história da música.
Mick Jagger-Van Morrison. Acho que é exactamente ao contrário. Já ouviu "Here Comes The Night" pelos Them?
Luís
Nem pensar, Luís! Nunca me imaginei sequuer escritos.
Quanto ao Ritmo 64, era locutado pelo Pedro Castela, penso eu. Aliás, acho que o Em Órbita foi um projecto idealizado por quem fazia o Ritmo 64.
Jagger/Morrison? Será possível saber quuem parece quem? :-)
Luís, tenho a discografia toda dos Them :-) O Here comes the night foi estreado na rádio portuguesa pelo Em Órbita, penso. E eu nunca deixei de ouvir um Em Órbita
Era o Pedro Castelo, de facto, mas o "Em Órbita" era um projecto, essencialmente, do Jorge Gil, Pedro Albergaria e João Manuel Alexandre, entre outros.
Acrescento que o indicativo do "Em Órbita" era um instrumental dos Kinks, "Revenge", e o primeiro tema a passar no 1º programa foi "A Kind Of Girl" dos Zombies. Podem ler mais s/ o "Em Órbita" no meu "Gato Maltês" de 1 de Abril deste ano: o programa faria 42 anos.
Abraço
JC
Enviar um comentário
<< Home