quinta-feira, novembro 08, 2007

A Importância de se chamar Bo Diddley

Ao nascer , puseram-lhe o nome pomposo de Ellas Otha Bates McDaniel . Tornou-se conhecido sob o nome de Bo Diddley, e gravou em 1958 um longa duração com o seu nome, da qual constavam músicas como “Bo Diddley”, “I‘m a man“, “Who do you love?” ou “Pretty Thing”. O mundo musical acordava então para o “Bo Diddley beat”, simples mas electrizante, e que seria influente como poucos outros na música que se faria de então em diante.

Bo Diddley - Bo Diddley

No início dos anos 60, Alexis Korner, John Mayall e Graham Bond traziam do outro lado do mar a sonoridade dos blues e iniciavam assim, um importante movimento na música anglo-saxónica, até então de modesta expressão exceptuando talvez Cliff Richard e os seus muito "clean" Shadows - quando comparada com o riquíssimo mercado norte-americano.
A aderência da juventude britânica, a sua cultura musical - alguém alguma vez esquecerá os Concertos Promenade da BBC? - foi impressionante, e o germinar de grupos de rythm’n’blues, espantosa.
Na verdade, muito poucos foram os grupos de então que não se aventuraram por essa via, embora uns tempos mais tarde, alguns derivassem para uma via mais pop, com mais ligações ao rock’n’roll branco de Elvis, Buddy Holly ou Lonnie Donnegan, talvez reflectindo a clivagem existente entre mods e rockers, as efervescentes sub-culturas da juventude inglesa de então, podendo-se incluir nesse grupo, por exemplo, os Searchers (grupo de skiffle que já vinha dos anos 50), Swinging Blue Jeans, Dave Clarck Five ou Hollies, e acima de todos, os Beatles. Mas mesmo esses grupos não desdenharam gravar “covers” de alguns já então, clássicos negros, nomeadamente de Chuck Berry.
Mas o que interessa agora é lançar um olhar (ou um ouvido) à musica de alguns fiéis e ilustres blues’ianos, chamemos-lhe assim, e verificar da influência que sofreram do acima referido trabalho de Bo.
Fiquei impressionado quando ouvi a cover que os Stones fizeram de Carol, de Berry, que fazia parte do seu 1º EP editado em Portugal. Mas a posterior audição do seu primeiro LP deixou-me completamente espantado, especialmente com a abertura, Not Fade Away, de Holly. Devo acrescentar que só muito tempo depois ouvi o original, mas continuei a gostar mais da versão dos Stones.

Rolling Stones - Not Fade Away

De qualquer forma, aquele beat era-me familiar. Claro, era o rambling beat de Diddley, que, explicou ele uma vez, criou de forma a que se parecesse com o som de um camião carregado a rolar pela noite fora.
Aliás, se se atentar bem nesse primeiro álbum dos Stones, fácil será verificar que em todo ele se explora essa singular forma de tocar, e que tem sequência em 12x5, o longa duração seguinte do grupo londrino.
Quase ao mesmo tempo, os Animals de Alan Price e Eric Burdon, à altura a voz mais negra de Inglaterra, registava versões de “Bo Diddley” ou “Roadrunner”, enquanto que os Yardbirds e Eric Clapton gravavam a sua versão de “I’m a man“, música que posteriormente teria um número incontável de versões, de Iggy Pop aos Creation, passando pelos Dr. Feelgood e Jimi Hendrix. E os Pretty Things gravavam igualmente”Roadrunner”.

Bo Diddley - Pretty Thing

Quanto a “Who do you love”, Jim Morrison encarregou-se de imortalizar aqueles pouco mais de 3 minutos de música, com uma versão esmagadora, já depois de a mesma ser cantada a várias vozes, umas mais conhecidas - Eric Clapton, Peter Green, Sonny Boy Wellington e os Yardbirds - outras menos, mas todas elas veneradoras do génio de Diddley.
Este pequeno resumo, dará certamente a ideia da importância que aquele álbum teve no panorama musical anglo-saxónico. Diz-se mesmo que, sem ele, o “rock “não teria “roll”ado da mesma maneira.

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2 Comentários:

Blogger JC diz que...

De facto, a pop e o rock britânicos são bem marcados nas suas origens: o skiffle e os blues. No 1º caso temos os Shadows (h. Marvin fez parte de um grupo de skiffle), os Beatles (malgré John Lennon), os Searchers, etc. Do outro lado, os "iniciados" por Alexis Korner e Cyril Davies, os do Crawdaddy Club de Richmond, à frente de todos eles os Stones e os Yardbyrds, mas ainda Animals, Them, Manfred Mann e por aí fora.
Até no seio dos próprios Beatles esse contraste é bem marcado, entre McCartney e Lennon.
E por hoje, com mtº pouco tempo, é o que me oferece.
Abraço
JC

1:20 da tarde  
Blogger VdeAlmeida diz que...

É verdade, os Beatles tanto tocavam Long Tall Sally como All my loving. Talvez por ter as duas faces, a moeda se tenha valorizado tanto. E é claro, aquela criatividade imensa ajudava...
Abraço

1:18 da tarde  

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