Notas sobre a popularidade, sucesso e outras efemeridades
A evocação recente no Ié-Ié dos Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick and Tich, grupo hoje só presente na memória de alguns poucos interessados no fenómeno musical da década prodigiosa, remeteu-me a nomes que costumo incluir num grupo restrito dos que, tendo feito então grande sucesso comercial, nunca conseguiram atingir aquela importância que os tornasse referências de gerações posteriores.
Entre outros, farão parte desse “saco“, por exemplo, os Herman’s Hermits, um grupo do qual o nome mais conhecido era o do vocalista, Peter Noone, adolescente senhor de uma voz…digamos, característica. Não vou fazer aqui uma retrospectiva da história do grupo - deste ou doutro - pois tal se tornaria fastidioso, além de que, para os interessados, basta uma busca na net e tudo se encontra. Limito-me a deixar umas ideias que tenho sobre os ditos.
Que até começaram bem a carreira, com “I’m into something good”, de Carole King e Gerry Goffin, um excelente single, cuja linha melódica e harmonia vocal se assemelhava muito ao que os Beach Boys e outros grupos da Califórnia faziam.
Herman's hermits - I'm into something good
O problema é que o produtor, Mickie Most, não tinha muita paciência para afinar os grupos em estúdio, e os do Herman’s, não eram especialmente dotados. E assim, decidiu-se que, para se aproveitar a onda do sucesso, os seguintes singles seriam gravados por Peter Noone, apoiado em músicos de estúdio, tendo sempre em conta a não utilização de meios muito complexos que depois, não pudessem ser usados em palco pelo grupo.
E comercialmente a manobra compensou. Os anos de 65 e 66, foram prósperos, e os singles nos tops sucediam-se. Mas as cedências a nível artístico iam-se avolumando. Queria-se chegar àquela faixa adolescente que gostava de música sem grandes artifícios e que ficasse no ouvido à primeira. E assim surgiram coisas como “Mrs. Brown you’ve got a lovely daughter” ou “I’m Henry the VIII, I am”. Obviamente, as vendas subiam. “No milk today”, de fins de 66, talvez o seu maior sucesso de vendas, juntamente com “There’s a kind of hush”, tem uma linha melódica de sucesso garantido, mas a nível de líricas é quase pateta, isto numa altura em que o que se dizia começava a ter tanta relevância como o que se tocava. Assim, o respeito do público mais maduro era difícil de conseguir.
Estas fórmulas fáceis têm vida curta, e foi o que sucedeu com os Herman’s Hermits, cuja estrela começou a empalidecer irremediavelmente a partir de 68.
Outro desses grupos, mas este muito mais respeitado a todos os níveis, foi o dos Hollies, grupo onde pontificava Graham Nash.
Desde o início, os Hollies sobressaíam sobretudo pelas harmonia de vozes - que de alguma forma Nash levou para os CSN - e pelo vibrante optimismo das suas composições, muito influenciados pelos Beatles ou Everly Brothers, aventurando-se mais tarde, principalmente de fins de 66 a fins de 67 - periodo muito fecundo, em que editaram 3 Lp’s - no campo psicadélico.
Mas o sucesso não foi grande, nomeadamente com o último da série, o magnífico Butterfly, e o retrocesso, numa cedência clara aos interesses comerciais das editoras - e dos próprios - dá-se logo nos inícios de 68, com o lançamento do melado “Jennifer Eccles”, single que ascende ao top 10 britânico.
The Hollies - The air that I breathe
O problema dos Hollies reside assim na incapacidade em fazer a sua música evoluir e a saída de Nash para se juntar a Crosby e a Stills é fatal.
Ainda lhes estava reservado um grande sucesso comercial, “He ain’t heavy, he’s my brother” - provavelmente uma das suas melhores composição, a par de “The air that I breathe” - mas seria esse o canto do cisne. As posteriores tentativas de volta à ribalta (uma delas incluindo o filho pródigo Nash), verificaram-se infrutíferas.
Deixo uma nota final: apesar de terem sido por vezes, apelidados de elitistas e até de arrogantes, os produtores do Em Órbita sempre “passaram” com assiduidade os Herman’s Hermits ou os Dave Dee’s. Quanto aos Hollies, nem havia razão para os não “passar”.
Entre outros, farão parte desse “saco“, por exemplo, os Herman’s Hermits, um grupo do qual o nome mais conhecido era o do vocalista, Peter Noone, adolescente senhor de uma voz…digamos, característica. Não vou fazer aqui uma retrospectiva da história do grupo - deste ou doutro - pois tal se tornaria fastidioso, além de que, para os interessados, basta uma busca na net e tudo se encontra. Limito-me a deixar umas ideias que tenho sobre os ditos.
Que até começaram bem a carreira, com “I’m into something good”, de Carole King e Gerry Goffin, um excelente single, cuja linha melódica e harmonia vocal se assemelhava muito ao que os Beach Boys e outros grupos da Califórnia faziam.
O problema é que o produtor, Mickie Most, não tinha muita paciência para afinar os grupos em estúdio, e os do Herman’s, não eram especialmente dotados. E assim, decidiu-se que, para se aproveitar a onda do sucesso, os seguintes singles seriam gravados por Peter Noone, apoiado em músicos de estúdio, tendo sempre em conta a não utilização de meios muito complexos que depois, não pudessem ser usados em palco pelo grupo.
E comercialmente a manobra compensou. Os anos de 65 e 66, foram prósperos, e os singles nos tops sucediam-se. Mas as cedências a nível artístico iam-se avolumando. Queria-se chegar àquela faixa adolescente que gostava de música sem grandes artifícios e que ficasse no ouvido à primeira. E assim surgiram coisas como “Mrs. Brown you’ve got a lovely daughter” ou “I’m Henry the VIII, I am”. Obviamente, as vendas subiam. “No milk today”, de fins de 66, talvez o seu maior sucesso de vendas, juntamente com “There’s a kind of hush”, tem uma linha melódica de sucesso garantido, mas a nível de líricas é quase pateta, isto numa altura em que o que se dizia começava a ter tanta relevância como o que se tocava. Assim, o respeito do público mais maduro era difícil de conseguir.
Estas fórmulas fáceis têm vida curta, e foi o que sucedeu com os Herman’s Hermits, cuja estrela começou a empalidecer irremediavelmente a partir de 68.
Outro desses grupos, mas este muito mais respeitado a todos os níveis, foi o dos Hollies, grupo onde pontificava Graham Nash.
Desde o início, os Hollies sobressaíam sobretudo pelas harmonia de vozes - que de alguma forma Nash levou para os CSN - e pelo vibrante optimismo das suas composições, muito influenciados pelos Beatles ou Everly Brothers, aventurando-se mais tarde, principalmente de fins de 66 a fins de 67 - periodo muito fecundo, em que editaram 3 Lp’s - no campo psicadélico.
Mas o sucesso não foi grande, nomeadamente com o último da série, o magnífico Butterfly, e o retrocesso, numa cedência clara aos interesses comerciais das editoras - e dos próprios - dá-se logo nos inícios de 68, com o lançamento do melado “Jennifer Eccles”, single que ascende ao top 10 britânico.
O problema dos Hollies reside assim na incapacidade em fazer a sua música evoluir e a saída de Nash para se juntar a Crosby e a Stills é fatal.
Ainda lhes estava reservado um grande sucesso comercial, “He ain’t heavy, he’s my brother” - provavelmente uma das suas melhores composição, a par de “The air that I breathe” - mas seria esse o canto do cisne. As posteriores tentativas de volta à ribalta (uma delas incluindo o filho pródigo Nash), verificaram-se infrutíferas.
Deixo uma nota final: apesar de terem sido por vezes, apelidados de elitistas e até de arrogantes, os produtores do Em Órbita sempre “passaram” com assiduidade os Herman’s Hermits ou os Dave Dee’s. Quanto aos Hollies, nem havia razão para os não “passar”.
(continua)
Etiquetas: Herman's Hermits, Hollies
5 Comentários:
Quentin Tarantino repescou "Hold Tight" dos Dave Dee... para a banda sonora de "Death Proof". Prestei-lhes a devida homenagem no "Gato Maltês".
Abraço
JC
Bingo! A coisa que mais me irritava nos Herman's Hermits é que Peter Noone era (e parece que ainda é!) mais novo do que eu! Ia aos arames com isso! Eu a estudar e o puto na fama com dinheiro, gajas, etc (sorry pela brejeirice...).
LT
Sabia disso, mas não vi o filme, JC. Mas vi a homenagem :-)
Abraço, e um excelente ano
Luís, a brejeirice não tem mal nenhum, eheh. Qual de nós nunca pensou assim?
Mas olha que o Stevie Winwood era muito mais para invejar, apesar de não ser tão versátil como o Noone (que era um actor muito razoável): tinha muito mais talento como músico, uma voz infinitamente superior...e era ainda mais novo!!!Úm abraço e um Ano Novo do melhor
Exacto, exacto! Steve Winwood era outro que tal! Ele, com 17 anos, a debitar "Keep On Running" e eu, com 18, a marrar Direito Romano!
LT
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