segunda-feira, novembro 26, 2007

Incontornáveis/1964 (1ª parte)

1964 poder-se-á considerar o ano chave para muitas das bandas (ou personalidades) que fizeram a história da música popular nos anos 60, e a consolidação do merseybeat (derivada do novo que banha Liverpool, o Mersey), designação que definiu um “som", que se tornou predominante em parte da British Invasion, embora de vida curta. Grupos como os Searchers, Gerry and the Pacemakers, os mesmo os Hollies adoptaram-no sucesso significativo.
Ao consultarmos os BI de alguns grupos, é fácil constatar que já vinham de trás, mas 64 foi o ano da afirmação, como será o caso dos The Animals, uma das “descobertas” de um dos gurus do r’n’b ingleses, Graham Bond, que começaram por editar “Baby, let me take you home”, uma adaptação de “Baby, let me follow you down”, de Dylan, mas que teriam a sua consagração a nível planetário com o single seguinte, “The house of the rising sun”, um “tradicional” de Josh White, onde pontificava magistralmente, não só, a voz “negra” de Eric Burdon, mas também o a partir daí inconfundível órgão de Alan Price, instrumento até então pouco usado por este tipo de grupos. Ambas as canções fizeram parte do seu primeiro álbum, “The Animals”. O grupo incluía então Chas Chandler (que seria "SÓ" o produtor que "descobriria" Jimi Hendrix), Hilton Valentine e John Steel, e dariam mais tarde no defunto Monumental, um dos mais extraordinários e insólitos - "apagou-se" o sistema de som, e Burdon, irritadíssimo, cantou mesmo sem microfone - a que jamais assisti.
The Animals - Club a Go-Go

Naturalmente, este seria o ano da explosão galáctica dos Beatles, com a beatlemania a invadir inexoravelmente os EUA, e a sua poderosa indústria discográfica, abrindo assim caminho a muitos outros.
O ano iniciava-se com “I wanna hold your hand” á frente dos tops, e com os Rolling Stones em digressão com as Ronettes e Dave Berry, entre outros, enquanto os Yardbirds eram a banda suporte de Sonny Boy Williamson na sua tournée por terras inglesas, “união” que daria mais tarde origem a um excelente Lp..
A Hard Day’s Night seria um dos álbuns do ano, banda sonora do filme que apresentou universalmente os Fab Four “em carne e osso”, e que incluía já um apreciável número de canções de um estilo inconfundível, a flutuar entre a balada romântica e os british blues com melodias irresistíveis e que se tornou a chave do sucesso da banda. A minha opinião, sendo desde sempre um admirador dos Beatles, pode conter em si algo de facciosismo, mas neste álbum, como em todos os outros, não consigo encontrar uma canção que se destaque, tão boas eram todas. No entanto, poderia referir a canção que serve de título ou a encantatória “If I Fell”, como contraponto à enérgica “Can’t buy me love”.
Os Manfred Mann, composto por alguns dos notáveis alunos de John Mayall e ex-companheiros de banda de Graham Bond - o próprio Manfred(organista) e Mike Hugg(bateria) - chegam pela primeira vez ao top 10 da NME com 5-4-3-2-1, mas seria com Do-Wah-Diddy (cover de um êxito das Exciters) que atingiriam o top. Curiosamente, nenhuma destas canções, tal como a seguinte a atingir os topos das vendas, “Sha la la” (outra cover, esta de um original das Shirelles) reflectia a verdadeira identidade do grupo, os r’n’blues. Só mesmo vendo o grupo ao vivo, ou ouvindo o seu excelente 1º Lp, “Five Faces of Manfred Mann” de que faziam parte belas versões de “Hoochie Coochie Man”, de Dixon, ou “I ‘ve Got my mojo working”, de Morganfield. Da formação dos Manfred, faziam então parte, não só os já mencionados, mas também o sax e guitarrista Mike Vickers, o vocalista Paul Jones, e baixista Tom McGuinness.
Manfred Mann - I've got my mojo working

Outro dos incontornáveis de 64 foi o 1º Lp dos Rolling Stones, “England’s Newest Hitmakers”, na minha opinião, um dos melhores dos Stones, mesmo que praticamente todo ele composto por versões de clássicos de blues. Única excepção, a 1ª canção do duo Jagger/Richards, “Tell me”. Mas o Lp é, sem dúvida, extraordinário. Creio que poucas versões de “Carol“, “Not fade away”, “Walking the dog”, de Thomas, ou “Route 66”, de Troup, terão atingido o brilhantismo daquelas dos RS dos primeiros tempos. O vigor da execução de Richards e Wyman, e a interpretação quase selvagem do jovem Jagger secundado por um frenético Brian Jones, emprestavam uma força inigualável aos “clássicos”.
The Rolling Stones - Walking the dog

(continua)


2 Comentários:

Blogger JC diz que...

Por partes.
1. Também lá estive, no Monumental e na 1ª fila da plateia e cantei (???) com o Eric Burdon em pé, junto ao palco, o refrão de "Don't Let Me Be Misunderstood".
2. "Do Wha Diddy" é de facto um original com pouco êxito dos Exciters (+ conhecidos pelo seu êxito "Tell Him"), composto pela dupla do Brill Buiding Jeff Barry - Ellie Greenwich que o gravaram com o seu grupo Raindrops (tenho aqui uma colectânea). No entanto, a "fita" só foi editada em 1994 (!!!) e a versão dos Animals é de facto a de referência.
3. Entre os meus MM, tenho aqui uma mtº interessante colectânea em vinil, "The R&B years", da "See For Miles". Excelente. Paul Jones, depois substituído por Michael D' Abo, teve depois duas gravações interessantes: "I've Been A Bad Bad Boy", do filme "Privilege", um clássico dos sixties, e "High Time".
4. Penso que o LP que refere dos Stones é uma edição americana e que o 1º album deles se chama simplesmente "The Rolling Stones" (é o que aqui tenho). Não é uma chinesice, pois em alguns casos (o "Aftermath", por exemplo)os alinhamentos e/ou os temas diferem.
E não maço mais.
abraço
JC

9:36 da tarde  
Blogger VdeAlmeida diz que...

Também gosto muito dos MM. Com e após Paul Jones.
Quanto aos alinhamentos, é verdade o que aponta. Hoje dou uma explicação sobre as minhas escolhas deste ou daquele Lp
Abraço

1:06 da tarde  

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