As rosas quentes de Ryan Adams
Hoje, talvez levado pela última música que aqui deixei, volto a Ryan Adams, actualmente um dos músicos que mais ouço, e sempre com grande prazer.
Até ao fim do ano, Ryan tem programadas edições de dois cd’s, o que tendo em conta que já editou Cold Roses, um cd duplo, em Maio, é obra.
Três cd’s num ano, quando outros autores ou grupos demoram normalmente um ou mais anos para adicionarem novo trabalho aos anteriores, dão bem a ideia da fecundidade criativa deste jovem músico (nasceu em 1974), que à quantidade alia uma inegável qualidade.
O ex-lider dos Whiskeytown, um grupo de country-rock interessante com o qual gravou 4 cd’s, em 2000 decidiu-se por uma carreira a solo, e desde então, balançando entre a canção mais intimista e o rock de garagem, nunca conseguindo esconder as suas raízes country, tem feito alarde do seu talento, que parece inesgotável, editando, no mínimo, um cd por ano.
É curioso que, e embora de uma escola completamente diferente, esta sua facilidade em escrever novas canções e compor novas músicas, me recorda o extraordinário Frank Zappa, génio que se foi há quase 12 anos, mas cuja obra perdurará para sempre.
A obra de Ryan não é porém linear na vertente qualitativa.
O seu 1º álbum, Heartbreaker, é uma obra gentil, romântica, salpicada de melodias muito country&western, e se o nível atingido foi elevado, com o 2º, Gold, atingiu a quase perfeição, com faixas notáveis como La Cienega just smiled, New York, New York ou When the stars go blue, a fazerem pensar quem ouvia o álbum, que dificilmente o autor poderia ir mais além.
De certa forma, o álbum seguinte confirmava-o, Demolition não tem nada de assinalável, e o 4º, Rock’n’Roll, naquilo que se pensou ser uma inflexão definitiva de Ryan nos domínios do rock puro, embora com alguns sinais de recuperação, não dava a quem esperava pela volta do “good old” Ryan, uma satisfação muito elevada, embora criasse algumas expectativas.
E em fins de 2003, princípios de 2004 sai Love is Hell(é estranho, mas o álbum seguinte foi editado em duas fases, Love is Hell part1 e Love is Hell part 2, sendo editado posteriormente um duplo que incluía os dois), e aí, a satisfação foi total pois a obra é fascinante, e contém algumas das jóias mais reluzentes da obra de Ryan, como This home is not for sale, Avalanche, ou uma fabulosa versão de Wonderwall, dos manos Gallagher, que nos faz pensar como uma interpretação de qualidade e bom gosto, pode fazer toda a diferença.
É sem dúvida um álbum soberbo e que só teria seguimento à altura com o recém-editado Cold Roses, onde o autor volta às suas origens e retoma a sua linha country-rock, muito Nashville, por vezes a fazer lembrar o velho Neil Young, mas...a cantar sem aquelas desafinações que fazem de Neil um intérprete único e irrepetível.
Depois destas rosas nada frias de Ryan, resta-nos esperar pelo que nos irá ele oferecer mais, este ano, que será, como prometeu, um ano invulgar em termos de criatividade. Oxalá a qualidade corresponda. Até agora, assim tem sido.
Banda sonora: Ryan Adams – La Cienega just smiled
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