domingo, julho 03, 2005

Like a rolling stone

Pelo ido Junho de 65, Robert Zimmermam aka Bob Dylan, natural do Minnesota, gravava aquele que seria uma das mais marcantes obras dos anos 60, “Like a rolling stone”.
A música espantou os que a ouviram pela primeira vez, porque pela primeira vez também uma canção popular excedia os 3 minutos, até então padrão máximo limite, tacitamente aceite por todas as gravadoras. Mas não só. Os puristas demoraram a perdoar a Dylan a introdução da guitarra eléctrica na sua música, até então um misto de folk e balada contestatária.
O meu travar de conhecimento com Dylan foi curioso. Primeiro, conheci algumas das suas canções em versão francesa, cantadas pelo Hughes Auffray – nessa altura o nosso isolamento cultural era atroz, e tudo o que fosse francófono chegava-nos com muito maior rapidez que o que falava inglês (as grandes publicações sobre música à venda eram o Salut les Copains e posteriormente, o Rock&Folk, ambas francesas, e eu só conseguia a Fab, inglesa, com grandes dificuldades)- depois, comecei a ouvir Donovan, que se dizia que era uma imitação inglesa de Dylan, e eu sem conhecer o original.
Só mesmo quando ouvi o Times, they are a’changing, a tal canção que soou mais ou menos como presságio, como muito bem escreveuJoão Lisboa no caderno Actual, do Expresso duas semanas atrás, num excelente artigo em que aborda o assunto.
É que os tempos mudaram mesmo. Não foi só o rock, com o psicadelismo a fazer a sua aparição. A geração hippie vinha a caminho, as lutas contra a discriminação racial nos EUA agudizaram-se e a contestação à guerra do Vietname atingiria o auge. E as palavras de Dylan, como de outras personalidades das letras e da música, tiveram importância decisiva nesse despertar de consciências
Por causa do Like a rolling stone, por cá sucedeu um episódio caricato. O Em Órbita divulgou o disco em 1ª mão, os produtores do programa tinham-no trazido de uma viagem, suponho, a Londres, e nessa mesma noite, a 23ª Hora, que era um programa muito ouvido da Rádio Renascença, fazia a reprodução da mesma, mas com uma qualidade duvidosa, que dava a sensação de ser, não um disco a tocar, mas uma fita de gravação. Para cúmulo, o locutor anunciou com pompa:
- Agora, a última canção de Bob Dylan, Like a rolling stone, que em português quer dizer Eu gosto dos Rolling Stones.
Era ridículo um músico como Dylan gravar uma canção a louvar um grupo, qualquer que ele fosse, e aquela tradução literal tornava o caso anedótico. Aliás, nem me parece que qualquer cantor ou grupo o fizesse.


Claro que o absurdo foi denunciado na emissão seguinte do Em Órbita. E o locutor, muito conceituado por sinal, teve a humildade de telefonar a pedir desculpa do incidente. Nunca se soube é se a canção tinha sido gravada da emissão do Em Órbita. Mas as coincidências eram muitas.
Voltando á música, foi posteriormente a ser editada em single como era normal na altura, incluída no LP Highway 61 Revisited, que eu considero, a seguir a Blonde on Blonde, o melhor álbum de Dylan.
Uma nota final, para dizer que na minha opinião, é o aparecimento de Dylan que torna a palavra, primordial na música popular.
Banda sonora: Like a rolling stoneBob Dylan

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