domingo, janeiro 20, 2008

Incontornáveis/1966 - 3ª parte

Fresh Cream - Cream - O acontecimento do ano? Provavelmente, para muitos musicólogos. Afinal tratava-se da 1ª produção daquele que foi considerado o 1º super-grupo, como na altura lhe chamaram, por se tratar da reunião com aquele que era o “deus” londrino da guitarra, de um dos melhores “baixos” do mercado, se não o melhor, e o mais exuberante baterista da altura, e durante uns largos anos mais. Para se avaliar do “peso” dos três senhores, será oportuno lembrar que a excelente revista francesa Rock&Folk procedia então, um pouco à imagem do que fazia por cá o Em Órbita, mas de forma mais alargada, á eleição dos melhores músicos (por instrumento), melhores álbuns, melhores canções, e por aí fora, e que durante três anos consecutivos, elegeu como melhor baterista Ginger Baker, como melhor baixo Jack Bruce, e melhor solista o inevitável Clapton (embora no caso deste, tenha dúvidas se num dos anos não terá sido votado Jimi Hendrix).
Mas essa já é uma história conhecida. Agora, quanto ao álbum: na altura, ainda não tinham começado os desatinos de cada uma das individualidades, como aconteceria mais tarde em concertos preenchidos com extravagantes e intermináveis solos por parte de cada um dos notáveis, que faziam as delícias de uns, o bocejo enfastiado de outros, e determinou a “morte“ do grupo. Aqui, ainda as canções seguiam os cânones da época, e raramente excediam os 3 minutos. E trata-se de uma das grandes sequências melódicas e de virtuosismo que conheço, que se inicia com um excelente I Feel Free, de Bruce - que detém a autoria de mais duas ou três faixas - e passa por clássicos como Spoonful, de Willie Dixon ou I’m so glad, de Skip James.
Pet Sounds - The Beach Boys .A obra prima de uma alma torturada, a obra-prima de Brian Wilson, o solitário Beach Boy que, diz-se, vendeu a alma ao diabo em troca de inspiração para compor a obra. Bem, se não é verdade…pelo menos Wilson tornou-se íntimo do monstruoso Charles Manson.
A história deste álbum está envolta em numerosas lendas (embora não tantas como o seguinte e nunca editado "Smile"), que não vêm agora ao caso. Irrefutável é o valor do álbum, que consta em várias tabelas de apreciação global, como o melhor de todos os tempos (Mojo, NME), embora não seja essa a minha opinião, reconhecendo, no entanto, a qualidade extra da obra. Que é uma sucessão incrível de harmonias vocais e rendilhados melódicos, quase levados ao paroxismo no espantoso God Only Knows . Avaliado no seu todo, tem que se ser demasiado exigente para descobrir faixas menores.
Parsley, Sage, Rosemary and Thyme - Simon & Garfuunkel - A osmose entre a criação de Simon e a voz de Garfunkel é provavelmente, uma das mais felizes da história da música popular, mesmo que não tenha conseguido sobreviver ao desgaste da relação pessoal. Trata-se também, da primeira obra totalmente escrita por Simon, e, esta uma opinião pessoal, o melhor álbum do grupo. A sucessão de pequenas árias - só a 1ª, Scarborough Fair/Canticle excede os 3 minutos - é perfeita, nos arranjos vocais, na encenação dramática, no lirismo quase etéreo que trespassa de faixas como Homeward Bound ou Dangling Conversation.
Revolver - The Beatles - Se há álbuns que dão conta do total amadurecimento de um grupo, este será um deles. Novos sons, novas horizontes de composição, até as líricas mudavam de objectivo (ou objecto), saindo da “intimidade” básica dos primeiros tempos, para abordar temáticas mais generalistas. O elevado nível da produção começa mesmo na capa, uma obra-prima de pop-art da autoria de Klaus Voorman, um artista multifacetado que ingressaria nesse mesmo ano nos Manfred Mann.
O álbum começa com o “acelerado” rock de Taxman, para prosseguir com uma das master pieces de Lennon/McCartney,Eleanor Rigby”, dando-se depois sequência a um desfiar de pequenas pérolas de composição, como For no one, ou a incursão no experimentalismo e em novos sons, como em Yellow Submarine.
Portrait - The Walker Brothers - Este notável álbum é a consagração daquele que era, porventura, o maior performer da década de 60, o norte-americano Scott Engel, figura algo enigmática, que juntamente com os seus companheiros de grupo (que não eram verdadeiramente irmãos como sugere o nome que adoptaram) John e Gary, tinha feito o trajecto inverso ao da British Invasion.
O Lp é um repositório de grandes baladas cantadas superiormente por Scott, com o suporte coral dos companheiros, muito ao estilo dos Righteous Brothers. O bom gosto de reportório do grupo era sua imagem de marca, uma exigência de sempre de Scott, como aliás, tem evidenciado a sua carreira a solo. De In my room a No sad songs for me, passando pelo belo Living above your head, não há defeito a apontar.
Será se referir que a reedição em cd teve como bónus o acrescento de algumas das mais memoráveis interpretações do grupo, como The sun ain´t gonna shine anymore ou Deadlier than the Male.
Dictionary of Soul - Otis Redding - Esta, uma das excepções que abro em relação aos grandes nomes negros dos r’n’blues e da soul, porque, com efeito, Otis teve uma importância quase transcendente, no panorama da rádio portuguesa por aqueles anos. E fora o Dock of the Bay, editado postumamente, este terá sido provavelmente o seu álbum mais importante.
Nele, Otis traz-nos interpretações irrepetíveis de canções suas, como Fa, fa, fa, fa, ou de clássicos como Try a little tenderness. O poder vocal, o dramatismo interpretativo de Otis, elevam a música soul a níveis nunca antes atingidos, e aos quais não se voltaria mais, após o seu desaparecimento prematuro.
Sunshine Superman - Donovan - Donovan abandona definitivamente a sua imagem de réplica inglesa (ou antes, escocesa) de Bob Dylan, e adquire identidade (embora antes já tivesse editado alguns discos de elevado gabarito, nunca conseguira fugir à etiqueta que lhe fora colada), abraçando novas sonoridades e apoiado no produtor Mickie Most, abalança-se nos novos caminhos do psicadelismo. Trata-se de uma obra de fácil digestão, e da qual são destacáveis a canção que dá nome ao álbum, ou Season of the Witch, embora faixas como a excelente Three King Fishers ou Guinevere não possam passar sem referência. No total, um álbum determinante mas algo desequilibrado.
*****

Outros álbuns interessantes saídos em 66:

13th Floor ElevatorsA Quick OneBuffalo Springfield
From NowhereHums of the Lovin' SpoonfulIf you can believe
LoveRoger the EngineerSmall Faces
The exciting Wilson PickettThe Incredible String BandPsychedelic Lolipop


E alguns singles:
- 19th Nervous breakdown - Rolling Stones
- Alfie - Cilla Black
- Bang Bang - Cher
- Barbara Ann - Beach Boys
- Bend it - Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick and Tich
- Big Time operator - Zoot Money and the Big Roll Band
- Black is black - Los Bravos
- Bus stop - Hollies
- California dreamin' - Mamas and Papas
- Cherish - Association
- Daydream - Lovin' Spoonful
- Dead end street - Kinks
- Dedicated follower of fashion - Kinks
- Don't bring me down - Animals
- Eight Miles High - Byrds
- Eleanor Rigby - Beatles
- Friday on my mind - Easybeats
- Get away - Georgie Fame
- Gimme some lovin' - Spencer Davis Group
- God only knows - Beach Boys
- Good Lovin' - Young Rascals
- Good vibrations - Beach Boys
- Guantanamera - Sandpipers
- Happy Jack - Who
- Have you seen your mother baby - Rolling Stones
- Hey Joe - Jimi Hendrix
- Hi lili hi lo - Alan Price Set
- Hideaway - Dave Dee's
- Hold tight - Dave Dee
- Homeward Bound - Simon & Garfunkel
- I can't control myself - Troggs
- I feel free - Cream
- I put a spell on you - Alan Price Set
- I'm a boy - Who
- I'm a rock - Simon & Garfunkel
- Just like a woman - Manfred Mann
- Keep on running - Spencer Davis Group
- Land of 1000 dances - Wilson Pickett
- Mellow yellow - Donovan
- Message understood - Sandie Shaw
- Midnight to six man - Pretty Things
- Mirror, Mirror - Pinkerton's Assorted Colours
- No milk today - Herman's Hermits
- Out of time - Chris Farlowe
- Over under sideways down - Yardbirds
- aint it black - Rolling Stones
- Pamela, Pamela - Wayne Fontana
- Paperback writer - Beatles
- ied Piper - Crispian St Peters
- Pretty Flamingo - Manfred Mann
- Reach Out (I'll be there) - Four Tops
- River deep, mountain high - Ike and Tina Turner
- Running round in circles - Ivy League
- Semi-detatched Mr. Jones - Manfred Mann
- Sha la la lee - Small Faces
- Shapes of things - Yardbirds
- Sitting in the park - Georgie Fame
- Sloop John B - Beach Boys
- Somebody help me - Spencer Davis Group
- Standing in the shadows of love - Four Tops
- Substitute - Who
- Summer in the city - Lovin' Spoonful
- Sunny - Georgie Fame
- Sunny Afternoon - Kinks
- Sunshine Superman - Donovan
- The beat goes on - Sonny and Cher
- The kids are alright - Who
- The sun ain't gonna shine anymore - Walker Brothers
- Try a little tenderness - Otis Redding
- Uptight - Stevie Wonder
- When a man loves a woman - Percy Sledge
- Wild Thing - Troggs
- Winchester Cthedral - New Vaudeville Band
- With a girl like you - Troggs
- Wrapping paper - Cream
- You can´t hurry love - Supremes
- You were on my mind - Crispian St. Peters

2 Comentários:

Blogger JC diz que...

De facto, é de cortar a respiração. Uma curiosidade: Fresh Cream e Disraeli Gears foram os primeiros CDs que comprei, na antiga Discoteca Roma em 1986, para aí. A loja tinha apenas ainda à venda umas duas dezenas de CDs, numa pequena caixa de cartão tipo cx de sapatos...

7:32 da tarde  
Blogger VdeAlmeida diz que...

Boa compra! Aliás, são todos de antologia, mesmo os dos concertos :-)

4:43 da tarde  

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