A Arte nas Capas de Álbuns
A transição dos clássicos álbuns de vinil trouxe consigo um inegável ganho em qualidade sonora e em espaço de arquivo, mas ao mesmo tempo levou consigo um certo romantismo intrínseco que o velho álbum possuía. Cada salto da agulha era como uma pequena mazela, traço de um descuido num baile, ou num transporte menos acautelado. Aquele arrastar roufenho de alguns que os tornava quase inaudíveis, eram a demonstração das imensas horas de gozo que já nos tinham dado e de como não desistiríamos de o ouvir até que se gastassem por completo.
Perdeu-se também, em grande parte, o fascínio que muitas capas exerceram sobre mim. Apesar de continuar a haver capas de cd muito bem elaboradas, nunca será a mesma coisa. O plástico será sempre mais impessoal, e o tamanho, diminuto, também não ajuda. Tenho para mim que o tamanho do velho LP era o ideal para se apreciar devidamente o trabalho do artista plástico que o concebera.
Sempre achei curiosa a evolução destas capas. Começaram por ser um mero invólucro de papel para o disco, só com um espaço transparente para que se visse o nome do artista e da obra impressos no próprio disco, e passou depois por uma fase de um pouco mais de sofisticação, com uma ilustração na capa, que passara do papel a uma espécie de cartolina, e que era invariavelmente o retrato do artista, em muitos casos a preto e branco, legendado com o seu nome e com o nome do álbum (em alguns casos, simplesmente o nome da canção que se pretendia mais preponderante).
As poses eram sempre muito clássicas, e esta capa do Frankie Valli e dos Four Seasons, é um bom exemplo.
Durante muito tempo assim permaneceu, e até considero que, embora não saindo muito do que era na altura norma, esta capa do Elvis, é bastante original
.
Foi nos meados dos anos 60, creio que com o impulso da onda psicadélica, que o cuidado com a aparência estética dos álbuns se foi apurando, e apareceram verdadeiras obras de arte (vejam a pintura que encima este texto, que é capa de um álbum dos Moby Grape de quem já quase ninguém se lembra, e digam lá se não parece ter sido obra de Dali), que eram um convite quase irrecusável à sua compra, mesmo desconhecendo-se a qualidade do conteúdo. Curiosamente, resisti sempre a eles.
Os Beatles, a par da vertente musical, foram também inovadores neste aspecto. Se a capa de Rubber Soul, utilizando o desfoque da câmara fotográfica, já tinha sido uma pedrada no charco, a capa do álbum seguinte, Revolver, desenhada por Klaus Voorman, que juntava à faceta de artista plástico a de músico – tocava nos Manfred Mann – é uma maravilha de pormenor, e nem a complexidade da seguinte, Sgt. Peppers, conseguiu atingir o seu brilhantismo
Só por curiosidade, o seguinte, Abbey Road, em que os Fab Four atravessavam a Abbey, deu origem não só a glosas posteriores por parte dos Red Hot Chili Peppers e dos New Yor City (Soulful Road), como a algumas especulações sobre a eventual morte de Paul McCartney, o que quer dizer que há sempre imaginações férteis.
E a verdade é que na altura, libertaram-se muitas imaginações, e como sempre quando tal acontece, libertaram-se também moralismos. É assim que a capa original do 1º e único álbum dos Blind Faith é censurada, banida e por uns tempos substituída por outra, e os autores acusados de imoralidade. Hoje, possivelmente, seriam acusados de pedofilia. E contudo, o disco permanece à venda com a sua capa original.
Outro alvo da censura de então, foi o álbum de Hendrix, Electric Ladyland, tendo nos Estados Unidos, a capa original sido substituída por uma fotografia de má qualidade de Jimi.
Curioso é verificar também os vários caminhos que foram sendo explorados para tornar as capas mais atraentes. No caso de Stand up, dos Jethro Tull, por exemplo, quando se abria o álbum a meio, havia um desdobrável com os membros do conjunto que ser erguia até ficarem...Stan up. No caso do 3º dos Led Zeppelin, havia uns buracos exteriores, por onde apareciam imagens desenhadas num disco de cartolina que se fazia girar no interior através de um movimento circular.
Penso que esta vertente estética dos discos lhes dava um encanto diferente, como acima apontei, e se muitos dos artistas que os foram fazendo eram e continuam a ser completos estranhos para nós, repare-se que artistas como Andy Wahrol não desdenharam de, também aí, deixarem a sua marca, como comprova a magnífica capa do ábum dos Velvet Underground & Nico.
Muito haveria a dizer sobre o assunto, mas não há como grandes discursos, para tornar um assunto agradável, numa chatice. Por isso, limito-me a deixar-vos mais algumas das capas que sempre foram das minhas preferidas. Limitei o campo de escolha até aos princípios dos anos 70, uma vez que me parece que poderão ser essas as menos conhecidas, algumas um pouco macabras, como a de Nursery Crime, dos Génesis.
Nota - A capa de "Music from the Big Pink", dos The Band, é uma pintura Bob Dylan.
Banda Sonora : I Can’t Take my Eyes from You – Frankie Valli & The Four Seasons
2 Comentários:
Já não vinha aqui há uns tempos e apanho com esta música :) (Suspiro). Vou ler o texto e ouvi-la várias vezes, posso? Beijinhos e obrigada pela doce nostalgia.
Como se pode ver, aqui a je já não muito do tempo do vinil porque quando comecei a comprar música já existiam os cds.
Todos os vinis foram oferecidos pelo meu namorado porque vasculhava as coisas do pai e sabia que eu iria gostar. Não porque pertencessem ao pai, mas porque há gente que realmente deita isto fora e ele como bom sucateiro que é os vai recolhendo.
Enquanto o meu gira-discos velhote funcionava ouvia muitos as minhas reliquias, acho fascinante o colocar do braço em cima do disco.
Fui buscá-los, tenho poucos e faz-me pensar que preciso de antecipar-me ao meu cunhado e ir roubar mais uns quantos (ele gosta de levar do que eu gosto), o último foi o White Album dos Beatles no Natal passado, fiquei muito triste e de certeza que ele nem ouve :()
Olha tenho:
England's Newest Hit Makers - Rolling Stones;
Aftermath - idem;
Still life - idem;
Flashpoint - idem;
Duran Duran - Duran Duran;
Arena - idem;
Avalon - Roxy Music
Parsley, Sage, Rosemary and Thyme - Simon and Garfunkel
Collection - Beach Boys (indispensável)
Hits: Greatest & Others - Joan Baez
Brother Where You Bound - Supertramp
Estas são as minhas relíquias :)
E excelente música hoje no blog, aliás nos dois blogs :D Fiquei maravilhada!!!!! :D
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