O Irlandês Irascível
Há vozes que nos acompanham durante tanto tempo, que mesmo que não os conheçamos pessoalmente os "donos", nos parece que sempre os conhecemos, e o nosso afecto por eles acaba por ser tanto como aquele que temos por alguém da família. É o que se passa comigo em relação ao Van Morrison. Aquela voz peculiar soa-me como sempre tendo feito parte da minha vida.
Já aqui falei do seu aparecimento nas minhas aventuras musicais, ainda integrado no seu grupo de rythm’n’blues, os míticos Them, através do lendário Em Órbita. Notava-se da parte do locutor de então, que seria o Pedro Castela, a simpatia que nutria por aquele grupo. Que merecia. Era um grupo enérgico, transbordante de talento, agressivo, mas de uma agressividade que nos agradava. Não havia ninguém no meu círculo de amigos que não gostasse deles, e principalmente daquele irlandês que cantava e era a sua imagem de marca. Ouvi tanta vez o 1º álbum deles que se gastou.
E aquela voz, quase irascível, correspondia a um feitio e um carácter a condizer. E foi esse feitio que o levou a romper com os companheiros, facto que me penalizou.
Mas a verdade é que durou pouco a desilusão. A sua carreira a solo começando algo titubeante com um álbum pouco mais que razoável, atingiu com o 2º, Astral Weeks, um ponto que poucos esperavam. Ainda hoje é considerado um dos 10 grandes álbuns da música popular, e por muito que se ponham em causa estas classificações, a verdade é que terão sempre alguma importância.
No ano seguinte seria a vez de Moondance, que incluía a canção com o mesmo nome, outro belíssimo trabalho, a lançar Van para uma carreira que atingiria o seu auge criativo durante os anos 70, longe das modas do glam-rock ou do disco-sound, antes fiel às suas origens.
A partir de então, a sua carreira tem sido fecunda, com a sua poesia simples, mas magnífica, servindo a sua “alma” musical, sempre baseada nos blues e no espírito céltico da sua homeland, e deixando vir muitas vezes ao de cima o seu gosto pelo jazz
(A Irlanda já lhe prestou um tribute filatélico
Os seus albums vão-se sucedendo a uma média bienal, por vezes até, anual, o que é notável em termos de criatividade, tanto mais que raramente a sua qualidade desce abaixo do bom, pelo que, e uma vez que são tantos e tão bons, me é difícil dar conta dos meus preferidos, embora um álbum como Avalon Sunset, só pelo facto de incluir uma das mais belas canções de amor de todos os tempos, Have I told you lately that I love, me vir imediatamente à cabeça. Mas Tupelo Honey é sem dúvida uma das suas obras maiores.
Assinaláveis também, os álbuns que tem gravado em parceria, mormente Tell me something, com canções de Mose Allison, e interpretado pelos dois juntos com Georgie Fame, companheiro musical assíduo de Van desde os anos 60, ou You win again, gravado em dueto com Linda Gail Lewis, irmã do old-rocker Jerry Lee Lewis.
De referir que Van Morrison vai cá estar a 4 de Outubro ao pavilhão Atlântico e que um espectáculo dele é sempre a não perder.
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