quinta-feira, agosto 25, 2005

Soul Music

Nunca sei em que tipo de música hei-de enquadrar o que Ray Charles cantava (e estas catalogações, com a cada vez maior proliferação de tipos de música, mais difícil se torna). O Allmusic designa o R’&’B como género musical, subdividindo-se por sua vez em vários estilos, tais como blues, jazz-blues, urban-blues, soul, etc. Vou dar de barato que a música do génio seria – classificação minha – um jazz-blues, e diria então que o meu primeiro contacto assinalável com a música soul, designação que então se atribuiu à música ligeira cantada por negros norte-americanos e que tinha fortes raízes religiosas ligadas aos espirituais, terá sido ao ouvir a fantástica voz de Wilson Pickett em In the midnight hour, que de tão espantosa, garanto, nunca mais esqueci

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Quem tenha lido o que até hoje tenho escrito sobre a música dos anos sessenta, poderá ser levado a pensar que os tops (apesar de tudo, ainda me parece que nessa altura eram de algum modo, um aferidor credível sobre a qualidade do que se fazia) eram dominados esmagadoramente pelos então emergentes grupos pop, rock ou qualquer coisa pelo meio, oriundos de Inglaterra ou dos EUA, aqui e ali destronados pelos grandes nomes do music-hall, como Frank Sinatra ou Elvis Presley, está a laborar num erro.
Nessa altura, a Atlantic e a Tamla-Motown eram duas máquinas poderosas, contavam com grandes vozes e disputavam os primeiros lugares palmo a palmo. Como exemplo, o grupo de Diana Ross, as Supremes, tiveram um tão impressionante número de entradas para os tops, que só os Beatles se lhe poderiam comparar. Isto, sem falar do extraordinário Marvin Gaye, um dos génios da música negra, e que era o ás maior do baralho da Motown.

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Nomes femininos como Fontella Bass, P. P. Arnold ou Martha and the Vandellas (um grupo muito interessante, na linha das Supremes e do qual eu gostava bem mais do que do trio da Ross), ou masculinos, como Percy Sledge (quem, depois de ouvir o seu When a man loves a woman, poderá alguma vez esquecer aquela voz poderosíssima?), os Temptations, Solomon Burke, Eddie Floyd, os Four Tops ou Joe Tex, terão sempre que fazer parte de uma discoteca que se preze.

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(Martha and the Vandellas – Dancing in the streets)

(Eddie Floyd – Knock on wood)

Mas os grandes nomes da música soul eram sem dúvida Otis Redding (que curiosamente nunca gravou para Atlantic ou para a Motown) e Aretha Franklin, apesar de ter sido com Carla Thomas, então sua colega na editora Stax, que Otis gravou um fantástico álbum chamado “King & Queen”, do qual fazia parte um fenomenal Tramp, que ficou como uma das mais perduráveis recordações do imortal Otis.

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Inegavelmente porém, Aretha tinha atingido um patamar e um reconhecimento público ao qual Carla nunca poderia aspirar, o que, em certa medida, penso eu, lhe terá limitado a carreira, situação agravada com o desaparecimento prematuro de Otis, o seu grande mentor. Não tenho certezas sobre o que se terá passado, certo só que após 1971, conheço-lhe um único álbum editado em 1994 pela Castle, desconhecendo mesmo se se terá tratado de um álbum de originais.
Como todos os outros tipos de música, e naturalmente, a soul evoluiu, tomou outros caminhos (alguns, como o disco-sound, ou aquela facção mais melosa, da qual serão expoentes mais notórios Lionel Ritchie e os seus Comodores, já para não falar do entediante Barry White, nunca foram nada do meu agrado, e até fico estupefacto e quase ofendido quando vejo algumas entidades respeitáveis classificarem uma Beyonce e outras do género, como cantoras de R'&'B).
Marvin Gaye até à sua morte teve uma obra notabilíssima, e o seu álbum What’s going on ficará sempre não só entre o que de melhor a Motown produziu, mas como um marco de toda a música negra.
Sem querer estar a fazer uma análise profunda sob pena de se tornar tudo isto muito chato, direi que dos nomes de então, vou continuando a ouvir com prazer as novas propostas de Solomon Burke e do próprio Stevie Wonder, que só pelo seu Innervisions merece alguma condescendência em relação às banalidades com que de vez em quando nos brinda

Nota – Deixei o Tramp a abrir com o blog. Para ouvirem as restantes terão que a parar, e carregar no “on” de cada player.

1 Comentários:

Blogger Daiane Cristina diz que...

Adorei !!!

4:25 da manhã  

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