Fresh Cream - Cream - O acontecimento do ano? Provavelmente, para muitos musicólogos. Afinal tratava-se da 1ª produção daquele que foi considerado o 1º super-grupo, como na altura lhe chamaram, por se tratar da reunião com aquele que era o “deus” londrino da guitarra, de um dos melhores “baixos” do mercado, se não o melhor, e o mais exuberante baterista da altura, e durante uns largos anos mais. Para se avaliar do “peso” dos três senhores, será oportuno lembrar que a excelente revista francesa
Rock&Folk procedia então, um pouco à imagem do que fazia por cá o
Em Órbita, mas de forma mais alargada, á eleição dos melhores músicos (por instrumento), melhores álbuns, melhores canções, e por aí fora, e que durante três anos consecutivos, elegeu como melhor baterista
Ginger Baker, como melhor baixo
Jack Bruce, e melhor solista o inevitável
Clapton (embora no caso deste, tenha dúvidas se num dos anos não terá sido votado
Jimi Hendrix).
Mas essa já é uma história conhecida. Agora, quanto ao álbum: na altura, ainda não tinham começado os desatinos de cada uma das individualidades, como aconteceria mais tarde em concertos preenchidos com extravagantes e intermináveis solos por parte de cada um dos notáveis, que faziam as delícias de uns, o bocejo enfastiado de outros, e determinou a “morte“ do grupo. Aqui, ainda as canções seguiam os cânones da época, e raramente excediam os 3 minutos. E trata-se de uma das grandes sequências melódicas e de virtuosismo que conheço, que se inicia com um excelente
I Feel Free, de
Bruce - que detém a autoria de mais duas ou três faixas - e passa por clássicos como
Spoonful, de
Willie Dixon ou
I’m so glad, de
Skip James.
Pet Sounds - The Beach Boys .A obra prima de uma alma torturada, a obra-prima de
Brian Wilson, o solitário Beach Boy que, diz-se, vendeu a alma ao diabo em troca de inspiração para compor a obra. Bem, se não é verdade…pelo menos Wilson tornou-se íntimo do monstruoso Charles Manson.
A história deste álbum está envolta em numerosas lendas (embora não tantas como o seguinte e nunca editado "Smile"), que não vêm agora ao caso. Irrefutável é o valor do álbum, que consta em várias tabelas de apreciação global, como o melhor de todos os tempos (Mojo, NME), embora não seja essa a minha opinião, reconhecendo, no entanto, a qualidade extra da obra. Que é uma sucessão incrível de harmonias vocais e rendilhados melódicos, quase levados ao paroxismo no espantoso God Only Knows . Avaliado no seu todo, tem que se ser demasiado exigente para descobrir faixas menores.
Parsley, Sage, Rosemary and Thyme - Simon & Garfuunkel - A osmose entre a criação de Simon e a voz de Garfunkel é provavelmente, uma das mais felizes da história da música popular, mesmo que não tenha conseguido sobreviver ao desgaste da relação pessoal. Trata-se também, da primeira obra totalmente escrita por Simon, e, esta uma opinião pessoal, o melhor álbum do grupo. A sucessão de pequenas árias - só a 1ª, Scarborough Fair/Canticle excede os 3 minutos - é perfeita, nos arranjos vocais, na encenação dramática, no lirismo quase etéreo que trespassa de faixas como
Homeward Bound ou
Dangling Conversation.
Revolver - The Beatles - Se há álbuns que dão conta do total amadurecimento de um grupo, este será um deles. Novos sons, novas horizontes de composição, até as líricas mudavam de objectivo (ou objecto), saindo da “intimidade” básica dos primeiros tempos, para abordar temáticas mais generalistas. O elevado nível da produção começa mesmo na capa, uma obra-prima de pop-art da autoria de
Klaus Voorman, um artista multifacetado que ingressaria nesse mesmo ano nos
Manfred Mann.
O álbum começa com o “acelerado” rock de
Taxman, para prosseguir com uma das master pieces de
Lennon/McCartney, “
Eleanor Rigby”, dando-se depois sequência a um desfiar de pequenas pérolas de composição, como
For no one, ou a incursão no experimentalismo e em novos sons, como em
Yellow Submarine.
Portrait - The Walker Brothers - Este notável álbum é a consagração daquele que era, porventura, o maior performer da década de 60, o norte-americano
Scott Engel, figura algo enigmática, que juntamente com os seus companheiros de grupo (que não eram verdadeiramente irmãos como sugere o nome que adoptaram)
John e
Gary, tinha feito o trajecto inverso ao da British Invasion.
O Lp é um repositório de grandes baladas cantadas superiormente por Scott, com o suporte coral dos companheiros, muito ao estilo dos
Righteous Brothers. O bom gosto de reportório do grupo era sua imagem de marca, uma exigência de sempre de Scott, como aliás, tem evidenciado a sua carreira a solo. De
In my room a
No sad songs for me, passando pelo belo
Living above your head, não há defeito a apontar.
Será se referir que a reedição em cd teve como bónus o acrescento de algumas das mais memoráveis interpretações do grupo, como
The sun ain´t gonna shine anymore ou
Deadlier than the Male.
Dictionary of Soul - Otis Redding - Esta, uma das excepções que abro em relação aos grandes nomes negros dos
r’n’blues e da
soul, porque, com efeito,
Otis teve uma importância quase transcendente, no panorama da rádio portuguesa por aqueles anos. E fora o
Dock of the Bay, editado postumamente, este terá sido provavelmente o seu álbum mais importante.
Nele,
Otis traz-nos interpretações irrepetíveis de canções suas, como
Fa, fa, fa, fa, ou de clássicos como
Try a little tenderness. O poder vocal, o dramatismo interpretativo de
Otis, elevam a música soul a níveis nunca antes atingidos, e aos quais não se voltaria mais, após o seu desaparecimento prematuro.
Sunshine Superman - Donovan -

Donovan abandona definitivamente a sua imagem de réplica inglesa (ou antes, escocesa) de
Bob Dylan, e adquire identidade (embora antes já tivesse editado alguns discos de elevado gabarito, nunca conseguira fugir à etiqueta que lhe fora colada), abraçando novas sonoridades e apoiado no produtor
Mickie Most, abalança-se nos novos caminhos do psicadelismo. Trata-se de uma obra de fácil digestão, e da qual são destacáveis a canção que dá nome ao álbum, ou
Season of the Witch, embora faixas como a excelente
Three King Fishers ou Guinevere não possam passar sem referência. No total, um álbum determinante mas algo desequilibrado.