segunda-feira, janeiro 28, 2008

Ora então, os riffs...

Da minha geração (e outras posteriores), não creio haver alguém interessado nesta faixa de música que envolve os blues/r’n’roll/pop, que passe indiferente aos grandes riffs de guitarra - os de outros instrumentos são menos comuns, apesar da grande repercussão que têm sempre, e estou a lembrar-me do incrível sax de Baker Street, de Rafferty ou do órgão de Price, no mega hit dos Animals, House of the Rising Sun - e não temo arriscar, que muitos músicos devem grande parte da sua fama, a um ou outro que alguma vez terão “arrancado” das entranhas.
São possivelmente de alguns dos nomes mais conhecidos da primeira geração de rock, os iniciadores deste tipo de intervenção sonora. Já aqui lembrei o muito emulado riff de Bo Diddley na canção com o seu nome próprio, mas seria injusto esquecer a influência que, nesta vertente, Chuck Berry teve nas gerações musicais seguintes, com músicas como “Johnny B. Good” ou “No Particular Place to Go
Desde então, foram muitas as vezes que me deixei seduzir por momentos de grande inspiração e seria quase impossível lembrar-me de todas, e foi por isso que aqui há tempo desafiei a quem me visita a deixar-me uma lista com os seus preferidos. Servir-me-ia de memorando, e ao mesmo tempo, para vir a conhecer alguns que me tinham passado desapercebidos (o José enumerou alguns que eu desconhecia e que assim passei a conhecer).

Mas vamos por partes, e deixem-me referir alguns dos que, desde sempre, mais tocaram por aqui.
- Not fade away - Rolling Stones
- Carol - Rolliung Stones
- You really got me - Kinks
- I feel fine - Beatles
- Satisfaction - Rolling Stones
- Day Tripper - Beatles
- Baby, please don’t go - Them
- Keep on running - Spencer Davis Group
- All your love - Eric Clapton
- Layla - Eric Clapton
- Sweet Home Alabama - Lynyrd Skynyrd
- Sunshine of your love - Cream
- Walk this way - Aerosmith
- 25 or 6 to 4 - Chicago
- Tush - ZZ Top
- Black Dog - Led Zepelin
- Whola lotta a love - Led Zeppelin
- Kashmir - Led Zeppelin
- All along the watchtower - Jimi Hendrix
- Smoke on water - Deep Purple
- Purple Haze - Jimi Hendrix
- Money for nothing - Dire Straits
- Sultains of swing - Dire Straits
- Are you gonna go my way - Lenny Kravitz
- Smells like teen spirits - Nirvana
- Learning to fly - Tom Petty

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domingo, janeiro 20, 2008

Incontornáveis/1966 - 3ª parte

Fresh Cream - Cream - O acontecimento do ano? Provavelmente, para muitos musicólogos. Afinal tratava-se da 1ª produção daquele que foi considerado o 1º super-grupo, como na altura lhe chamaram, por se tratar da reunião com aquele que era o “deus” londrino da guitarra, de um dos melhores “baixos” do mercado, se não o melhor, e o mais exuberante baterista da altura, e durante uns largos anos mais. Para se avaliar do “peso” dos três senhores, será oportuno lembrar que a excelente revista francesa Rock&Folk procedia então, um pouco à imagem do que fazia por cá o Em Órbita, mas de forma mais alargada, á eleição dos melhores músicos (por instrumento), melhores álbuns, melhores canções, e por aí fora, e que durante três anos consecutivos, elegeu como melhor baterista Ginger Baker, como melhor baixo Jack Bruce, e melhor solista o inevitável Clapton (embora no caso deste, tenha dúvidas se num dos anos não terá sido votado Jimi Hendrix).
Mas essa já é uma história conhecida. Agora, quanto ao álbum: na altura, ainda não tinham começado os desatinos de cada uma das individualidades, como aconteceria mais tarde em concertos preenchidos com extravagantes e intermináveis solos por parte de cada um dos notáveis, que faziam as delícias de uns, o bocejo enfastiado de outros, e determinou a “morte“ do grupo. Aqui, ainda as canções seguiam os cânones da época, e raramente excediam os 3 minutos. E trata-se de uma das grandes sequências melódicas e de virtuosismo que conheço, que se inicia com um excelente I Feel Free, de Bruce - que detém a autoria de mais duas ou três faixas - e passa por clássicos como Spoonful, de Willie Dixon ou I’m so glad, de Skip James.
Pet Sounds - The Beach Boys .A obra prima de uma alma torturada, a obra-prima de Brian Wilson, o solitário Beach Boy que, diz-se, vendeu a alma ao diabo em troca de inspiração para compor a obra. Bem, se não é verdade…pelo menos Wilson tornou-se íntimo do monstruoso Charles Manson.
A história deste álbum está envolta em numerosas lendas (embora não tantas como o seguinte e nunca editado "Smile"), que não vêm agora ao caso. Irrefutável é o valor do álbum, que consta em várias tabelas de apreciação global, como o melhor de todos os tempos (Mojo, NME), embora não seja essa a minha opinião, reconhecendo, no entanto, a qualidade extra da obra. Que é uma sucessão incrível de harmonias vocais e rendilhados melódicos, quase levados ao paroxismo no espantoso God Only Knows . Avaliado no seu todo, tem que se ser demasiado exigente para descobrir faixas menores.
Parsley, Sage, Rosemary and Thyme - Simon & Garfuunkel - A osmose entre a criação de Simon e a voz de Garfunkel é provavelmente, uma das mais felizes da história da música popular, mesmo que não tenha conseguido sobreviver ao desgaste da relação pessoal. Trata-se também, da primeira obra totalmente escrita por Simon, e, esta uma opinião pessoal, o melhor álbum do grupo. A sucessão de pequenas árias - só a 1ª, Scarborough Fair/Canticle excede os 3 minutos - é perfeita, nos arranjos vocais, na encenação dramática, no lirismo quase etéreo que trespassa de faixas como Homeward Bound ou Dangling Conversation.
Revolver - The Beatles - Se há álbuns que dão conta do total amadurecimento de um grupo, este será um deles. Novos sons, novas horizontes de composição, até as líricas mudavam de objectivo (ou objecto), saindo da “intimidade” básica dos primeiros tempos, para abordar temáticas mais generalistas. O elevado nível da produção começa mesmo na capa, uma obra-prima de pop-art da autoria de Klaus Voorman, um artista multifacetado que ingressaria nesse mesmo ano nos Manfred Mann.
O álbum começa com o “acelerado” rock de Taxman, para prosseguir com uma das master pieces de Lennon/McCartney,Eleanor Rigby”, dando-se depois sequência a um desfiar de pequenas pérolas de composição, como For no one, ou a incursão no experimentalismo e em novos sons, como em Yellow Submarine.
Portrait - The Walker Brothers - Este notável álbum é a consagração daquele que era, porventura, o maior performer da década de 60, o norte-americano Scott Engel, figura algo enigmática, que juntamente com os seus companheiros de grupo (que não eram verdadeiramente irmãos como sugere o nome que adoptaram) John e Gary, tinha feito o trajecto inverso ao da British Invasion.
O Lp é um repositório de grandes baladas cantadas superiormente por Scott, com o suporte coral dos companheiros, muito ao estilo dos Righteous Brothers. O bom gosto de reportório do grupo era sua imagem de marca, uma exigência de sempre de Scott, como aliás, tem evidenciado a sua carreira a solo. De In my room a No sad songs for me, passando pelo belo Living above your head, não há defeito a apontar.
Será se referir que a reedição em cd teve como bónus o acrescento de algumas das mais memoráveis interpretações do grupo, como The sun ain´t gonna shine anymore ou Deadlier than the Male.
Dictionary of Soul - Otis Redding - Esta, uma das excepções que abro em relação aos grandes nomes negros dos r’n’blues e da soul, porque, com efeito, Otis teve uma importância quase transcendente, no panorama da rádio portuguesa por aqueles anos. E fora o Dock of the Bay, editado postumamente, este terá sido provavelmente o seu álbum mais importante.
Nele, Otis traz-nos interpretações irrepetíveis de canções suas, como Fa, fa, fa, fa, ou de clássicos como Try a little tenderness. O poder vocal, o dramatismo interpretativo de Otis, elevam a música soul a níveis nunca antes atingidos, e aos quais não se voltaria mais, após o seu desaparecimento prematuro.
Sunshine Superman - Donovan - Donovan abandona definitivamente a sua imagem de réplica inglesa (ou antes, escocesa) de Bob Dylan, e adquire identidade (embora antes já tivesse editado alguns discos de elevado gabarito, nunca conseguira fugir à etiqueta que lhe fora colada), abraçando novas sonoridades e apoiado no produtor Mickie Most, abalança-se nos novos caminhos do psicadelismo. Trata-se de uma obra de fácil digestão, e da qual são destacáveis a canção que dá nome ao álbum, ou Season of the Witch, embora faixas como a excelente Three King Fishers ou Guinevere não possam passar sem referência. No total, um álbum determinante mas algo desequilibrado.
*****

Outros álbuns interessantes saídos em 66:

13th Floor ElevatorsA Quick OneBuffalo Springfield
From NowhereHums of the Lovin' SpoonfulIf you can believe
LoveRoger the EngineerSmall Faces
The exciting Wilson PickettThe Incredible String BandPsychedelic Lolipop


E alguns singles:
- 19th Nervous breakdown - Rolling Stones
- Alfie - Cilla Black
- Bang Bang - Cher
- Barbara Ann - Beach Boys
- Bend it - Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick and Tich
- Big Time operator - Zoot Money and the Big Roll Band
- Black is black - Los Bravos
- Bus stop - Hollies
- California dreamin' - Mamas and Papas
- Cherish - Association
- Daydream - Lovin' Spoonful
- Dead end street - Kinks
- Dedicated follower of fashion - Kinks
- Don't bring me down - Animals
- Eight Miles High - Byrds
- Eleanor Rigby - Beatles
- Friday on my mind - Easybeats
- Get away - Georgie Fame
- Gimme some lovin' - Spencer Davis Group
- God only knows - Beach Boys
- Good Lovin' - Young Rascals
- Good vibrations - Beach Boys
- Guantanamera - Sandpipers
- Happy Jack - Who
- Have you seen your mother baby - Rolling Stones
- Hey Joe - Jimi Hendrix
- Hi lili hi lo - Alan Price Set
- Hideaway - Dave Dee's
- Hold tight - Dave Dee
- Homeward Bound - Simon & Garfunkel
- I can't control myself - Troggs
- I feel free - Cream
- I put a spell on you - Alan Price Set
- I'm a boy - Who
- I'm a rock - Simon & Garfunkel
- Just like a woman - Manfred Mann
- Keep on running - Spencer Davis Group
- Land of 1000 dances - Wilson Pickett
- Mellow yellow - Donovan
- Message understood - Sandie Shaw
- Midnight to six man - Pretty Things
- Mirror, Mirror - Pinkerton's Assorted Colours
- No milk today - Herman's Hermits
- Out of time - Chris Farlowe
- Over under sideways down - Yardbirds
- aint it black - Rolling Stones
- Pamela, Pamela - Wayne Fontana
- Paperback writer - Beatles
- ied Piper - Crispian St Peters
- Pretty Flamingo - Manfred Mann
- Reach Out (I'll be there) - Four Tops
- River deep, mountain high - Ike and Tina Turner
- Running round in circles - Ivy League
- Semi-detatched Mr. Jones - Manfred Mann
- Sha la la lee - Small Faces
- Shapes of things - Yardbirds
- Sitting in the park - Georgie Fame
- Sloop John B - Beach Boys
- Somebody help me - Spencer Davis Group
- Standing in the shadows of love - Four Tops
- Substitute - Who
- Summer in the city - Lovin' Spoonful
- Sunny - Georgie Fame
- Sunny Afternoon - Kinks
- Sunshine Superman - Donovan
- The beat goes on - Sonny and Cher
- The kids are alright - Who
- The sun ain't gonna shine anymore - Walker Brothers
- Try a little tenderness - Otis Redding
- Uptight - Stevie Wonder
- When a man loves a woman - Percy Sledge
- Wild Thing - Troggs
- Winchester Cthedral - New Vaudeville Band
- With a girl like you - Troggs
- Wrapping paper - Cream
- You can´t hurry love - Supremes
- You were on my mind - Crispian St. Peters

terça-feira, janeiro 15, 2008

Incontornáveis/1966 - 2ª parte

Continuando a deambulação pelo extraordinário ano de 1966, continuemos pois com os álbuns mais importantes,:
The Spencer Davies Group - Autumn 66 -Este álbum será, quanto a mim, dos mais importantes do ano, por ser nele que se revela definitivamente um dos meninos prodígio da década, Stevie Winwood, uma das personalidades mais reservadas do panorama musical. E este facto terá de algum modo condicionado a carreira de um performer de qualidades invulgares, que nunca chegou a alcançar plenamente o reconhecimento que deveria ter tido.
Do álbum - segundo do grupo - constavam alguns dos mais conseguidos temas de r’n’blues cantados por Stevie, como Midnight Special ou When I come home, para além do seu mega-hit Somebody help me e de uma faixa que aprecio especialmente, High Time, que tinha um riff de guitarra muito semelhante ao de Keep on running.
John Mayall with Eric Clapton - Bluesbreakers - .Mas se o Lp anterior foi importante, que dizer deste? Da reunião de um dos pais dos “blue eyed blues” com o então maior génio da guitarra, ambos acolitados por dois outros executantes de eleição, John McVie e Hughie Flint, só poderia sair um produto de qualidade extra, que é o que é este álbum, o melhor álbum de r’n’blues alguma vez gravado em terras de Sua majestade.
De referir, por exemplo, o que a propósito deste álbum diz, a certa altura da sua análise, a “Classic Rock”:
“But his piéce de resistence comes on the six-minute Have You Heard, another Mayall original where Clapton effectively redefines the slow blues guitar solo for the next decade”.
The Kinks - Face to face - O primeiro álbum dos Kinks depois do seu banimento dos EUA, e que marca uma deriva (positiva) na música dos Kinks, mas principalmente da lírica de Ray Davies. É um álbum determinante também no aspecto em que se trata do primeiro integralmente composto por Ray. Creio que a “aventura americana” determinou fatalmente esta mudança, que nos traz um Davies impiedoso para com a sociedade, amargo mas cheio de humor, um humor mordaz e certeiro que na época não encontrava semelhança.
O álbum contém faixas impossíveis de omitir em qualquer compilação decente da década, como sejam Sunny Afternoon, Party Line ou o meu preferido Dandy. Ouvido o álbum, pouco se reconhece dos Kinks de You Really Got Me.
The Byrds - Fifth Dimension - Este é para mim, o melhor álbum dos Byrds. Eight Miles High, canção banida por rádios americanas, é fulcral para a emergência de um contra-ataque norte-americano á British Invasion, mas não só. A abordagem do guitarrista Roger McGuinn é completamente diferente de tudo o que até então se tinha feito e determina o nascer da era psicadélica. Mas deixar a análise do Lp por uma canção, seria demasiado redutor. As diversificadas abordagens dos Byrds aos temas, as influências jazzisticas, as inovações a nível sonoro, fazem deste trabalho, algo de memorável. Faixas a reter: Mr. Spaceman, 5th Dimension, Eight Miles High, John Riley.

The Mothers of Invention - Freak Out - Este é o primeiro trabalho editado, daquele que seria uma das personalidades mais fantásticas da cena musical mundial, da segunda metade do século XX. Na verdade, e embora os Mothers of Invention fosse um agrupamento de músicos de 1ª água, difícil seria Frank Zappa, alma-mater do grupo, não se afirmar individualmente, tal a exuberância da sua personalidade e do seu génio criativo.
Definir este álbum à luz dos padrões da época torna-se difícil, porque não respeitava nenhum. Resumidamente, pode-se dizer sem receio de errar muito, que se trata de uma obra ambiciosa de música avant garde, onde todos os conceitos musicais ou artísticos tout-court, de Zappa estão presentes, tal como a sua visão crítica sobre a conservadora e hipócrita sociedade americana e seus lideres, que seriam alvos preferenciais de Zappa durante a toda a sua fecunda carreira.

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Os "riffs" memoráveis

Jimi HendrixJimmy PageEric Clapton

Durante a recente prospecção sobre a produção musical de 66, reparei que um dos “riffs” de guitarra mais célebres de todos os tempos - Satisfaction, dos Rolling Stones - é deste ano, tal como um outro, este bem menos conhecido, o de Clapton em “All your love” (in. LP Bluesbreakers), ao qual posteriormente o ilustre guitarrista acrescentou mais uns quantos em número dificilmente contabilizável, durante a sua permanência nos Cream, e sucessivamente nos Blind Faith, Derek & The Dominoes e a solo.

Falo destes dois meramente a título de exemplo, porque o ano foi fecundo em momentos altos, mas ao que eu queria chegar era à “responsabilidade” destas inspirações - do virtuosismo de alguns músicos de excelência, ou os rasgos de outros menos dotados, no sucesso dos grupos/intérpretes - têm na sedução que a arte tem sobre nós.
Ora e já que se fala de riffs de guitarra inolvidáveis, vinha convidar quem me lê a eleger aqueles que foram os 10/20 melhores riffs de que se lembram. Não falo de canções - as dos Cream ou de Jimi Hendrix, mesmo as de alguns músicos “heavy”, são pródigos em solos, mas não é disso que falo - mas só mesmo de riffs, por ex. “Satisfaction”, “You really got me”, “Layla“, “Smoke on water” ou “Bo Diddley”.
No fim se farão as contas e se verá quais os riffs memoráveis.

Led Zeppelin - Kashmir

segunda-feira, janeiro 07, 2008

O Mocho Cego e o Urso

Ainda há poucos meses se perfizeram 40 anos sobre o um dos acontecimentos mais marcantes dos 60, o Festival de Monterey, festa durante a qual Hendrix ascendeu à divindade. Mas o festival não se resumiu à consagração de Jimi. Foi, pode dizer-se, o acender do rastilho hippie, e de tudo o que de bom e mau se lhe seguiu. E foi durante esses dias que se tornou conhecido um dos grupos mais originais da década, os Canned Heat, uma banda que produzia um dos sons mais reconhecíveis de sempre.
Formada por dois “furiosos” coleccionadores e cultores de blues Alan “Blind Owl” Wilson (guitarra, vozes e harmónica) e Bob “the Bear” Hite (vocalista), aos quais se juntaram Henry “The Sunflower” Vestine (guitarra), Larry “The Mole” Taylor (baixo) e Adolfo “Fito” de la Parra (bateria), o grupo valeu-se dos conhecimentos "bluesianos" enciclopédicos de Wilson, extraordinário executante de harmónica, e de Hite, para recuperarem de forma original velhos blues de fins dos anos 20, imprimindo-lhes a sua marca de água, uma mistura de blues, rock rural e boogie, o que lhes valeu o “título “ de reis do boogie-woogie atribuído pela crítica.
Apesar da qualidade muito apreciável dos seus primeiros álbuns, sobressaíram pela sua qualidade, três canções que se tornaram hinos da geração: “Let’s Work Together”, “On The Road Again” e “Going Up the Country”, todas baseadas em “velhos” blues de músicos negros, já na altura pouco lembrados (excepto a primeira, da autoria de Wilbert Harrison - o tal de "kansas City" - que se manteve em actividade "áudível" até inícios dos anos 70).
Infelizmente para o grupo - e para nós - a sua vida foi sempre conturbada, em algumas alturas, de forma trágica até. As alterações na formação foram várias, primeira provocada pela saída de Vestine, substituído por Harvey Mandel, um dos mais talentosos guitarristas de blues de então, mas a mais significativa provocada pela morte de Wilson em circunstâncias misteriosas (o uso de drogas não será alheio ao facto) em 1970.

Depois de uma década de 70 plena de mexidas na constituição do grupo, e pouco frutuosa em termos musicais, o outro dos grandes impulsionadores da banda, Bob Hite, que devia a sua alcunha “The Bear” à sua envergadura física, acabou por morrer nos inícios dos 80 com um ataque cardíaco.
O grupo mantém-se activo até hoje, graças à persistência do baterista “Fito” de la Parra, mas para a história ficarão somente os seus primeiros anos, com aparições marcantes no já citado festival de Monterey e em Woodstock, com actuações memoráveis, e pelos seus álbuns, especialmente o 2º, “Boogie with The Canned Heat” e o que gravaram com John Lee Hooker, “Hooker and Heat”, derradeiro a contar com a participação de Alan “Blind Owl” Wilson.

Canned Heat & John Lee Hooker - Whiskey and Women

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quarta-feira, janeiro 02, 2008

Incontornáveis/1966 - 1ª parte

O ano de 1966 foi importantíssimo, diria, foi mesmo determinante para muitas das figuras da cena musical anglo-americana, e para a própria no seu todo. Foi um ano tão cheio de acontecimentos, que fazer um resumo do que se passou se torna tarefa árdua.
Procurarei pois, dar uma pincelada rápida por aqueles acontecimentos que, na minha óptica, se revestiram de maior relevância no campo musical.
Assim, será importante assinalar, que foi nesse ano que:
- a associação de músicos ingleses deliberou banir da televisão o recurso ao play-back.
- os Rolling Stones, (que tinham iniciado o ano com um notável tiro no pé ao editarem um single cujo lado B, As tears go by, era melhor que o lado A, 19th nervous breakdown) lançam o seu primeiro álbum integralmente constituído por originais do grupo, o notável Aftermath,
- os Beach Boys editam a sua obra maior, Pet Sounds, fruto do génio de Brian Wilson
- Stevie Winwood, adolescente de 17 anos, torna-se figura cimeira da música britânica como vocalista e indiscutível líder do Spencer Davis Group, irrompendo nos tops com Keep on Runnig (da autoria do produtor do grupo, Chris Blackwell).
- Eric Clapton junta-se a John Mayall, Hughie Flint (futuro McGuinness Flint) e John McVie (futuro Fleetwood Mac) e gravam aquele que é considerado hoje, o melhor álbum de r’n’blues britânico: “John Mayall with Eric Clapton: Blues Breakers” Algum tempo depois, forma com Ginger Baker e Jack Bruce, o primeiro super-grupo, os Cream.
- os Byrds gravam aquela que é considerada por vários críticos musicais, a 1ª canção psicadélica de sempre, “Eight Miles High" (outros defendem que teria sido For your love, dos Yardbirds)
- emerge o movimento musical originário da West Coast. Os primeiros nomes a ganharem notoriedade nas charts são os Lovin’ Spoonful, de John Sebastian, os Mamas and Papas, os Association e os Love.
- John Lennon gera controvérsia mundial ao comparar a popularidade dos Beatles á de Jesus Cristo (por vezes custa ouvir a verdade)
- uma banda espanhola, Los Bravos, atinge o 2º lugar do top britânico com “Black is black
- Leonard Bernstein afirma que está mais interessado no trabalho de Simon & Garfunkel e dos Associaton que nos pretensiosismos académicos da “contemporary art music“.
- Dylan, logo após a edição da sua obra prima Blonde on Blonde tem um acidente de mota quase fatal.
- Os Pink Floyd dão os seus primeiros concertos
- Chas Chandler, baixista dos Animals, “descobreJimi Hendrix durante a digressão do grupo pelos Estados Unidos.


Após esta breve resenha, vamos então à análise dos Álbuns, não deixando de frisar que, dada a elevada quantidade de álbuns editados durante esse ano e a sua qualidade, analisarei aqueles que na minha óptica terão sido os mais relevantes.
Assim, e por ordem alfabética:
Aftermath - Rolling Stones - O primeiro Lp dos Stones integralmente preenchido com originais da dupla Jagger/Richards. E um excelente álbum, diga-se, dos melhores de sempre do grupo britânico, com um som ainda muito influenciado nos r’n’blues, e no seu todo bastante equilibrado. Quero dizer com isto que as canções incluídas, são na sua maioria, de qualidade superior musicalmente, mas também de líricas mais elaboradas, algumas delas bastante cáusticas relativamente às hipocrisias da sociedade de então, como a canção de abertura, Mother’s Little Helper, Out of Time ou Stupid Girl, estas, duas das minhas preferidas, juntamente com Doncha Bother Me e Under My Thumb, e creio que das mais conseguidas do conjunto.


Rolling Stones - Dontcha Bother Me

And then ... along comes The Association - Esta foi talvez, uma das maiores surpresas do ano. Os Association foram quase sempre algo menosprezados pelos críticos musicais, talvez pela “leveza” das suas composições mais conhecidas, demasiado pop - e sabe-se como a pop ainda hoje é vista com algum desdém, como “música menor” - como Cherish ou Along Comes Mary. Injustamente, digo eu. Este Lp dos Association é uma lufada de ar fresco, com jogos de vozes muito na linha da tradição vocal norte-americana, mas não só. É manifesto que como executantes, os Association também atingem uma craveira assinalável, apesar de uma parte do mérito do seu êxito em estúdio, o devam ao produtor Curt Boettcher, que tratou o álbum de forma completamente inovadora, relativamente ao que então se fazia no rock ou folk-rock norte americano.

The Association - Cherish

Animalisms - The Animals - O ano de 66 foi complicado para os Animals, principalmente devido ao fracasso da sua digressão norte-americana, que acabou por originar a implosão do grupo. Ao que parece, o único “ganhador” dessa digressão terá sido Chas Chandler ao “descobrirJimi Hendrix.
Mas este álbum é realmente de qualidade superior, talvez o único motivo de alegria para Eric Burdon, que aqui demonstra as suas extraordinárias capacidades vocais. O Lp é um misto de covers e originais bem caldeado, em que Dave Rowberry dá mostras de que a sua presença talvez tivesse merecido mais que um papel secundário e quase obscuro papel, na história dos Animals.
Blonde on Blonde - Bob Dylan - O 1º Lp duplo de Dylan, é também por isso, um marco na história do rock Mas o álbum é muito mais que isso. Nele se apresenta já o embrião daquele que seria durante anos o seu grupo de apoio, os históricos The Band, com a inclusão do guitarrista Robbie Robertson e o universo surreal de Dylan, com intrincadas líricas enquadradas perfeitamente numa moldura musical que é uma constante descoberta. Esta, corre da emoção de baladas inolvidáveis como I Want you ou Just like a woman, ao som ríspido e palavras desbragadas de Rainy day woman.
Uma lição completa, dada pelo grande e incomparável mestre




Os caminhos do Censor são insondáveis

Mamas and Papas1Mamas and Papas2Mamas and papas 3
Como todos reconhecemos, para nós, comuns mortais, o pensamento do censor é insondável, está muito para lá da nossa humilde compreensão.
O caso que aqui apresento hoje, é desses casos. Matutamos, matutamos, mas nada.
A 1ª capa, era a original do excelente primeiro álbum (1966), dos Mamas and Papas. Mas ao que se sabe, a “inteligentzia” norte-americana, hipocritamente puritana como poucas, achou que aquela foto era “demasiado suja”, e vai daí, faz-se um 2ª edição em que a sanita aparecia tapada. Mas nem mesmo assim a coisa os convenceu. Aquilo ficava bem era se se tapasse completamente o “ambiente de WC” . Pois então, que saia uma 3ª edição em que se anule também a banheira.
Pessoalmente, faz-me lembrar aquela história dos ditadores mandarem apagar as figuras dos amigos desavindos das fotos oficiais, o que vindo de um país que se arvora no campeão de democracia, é no mínimo surpreendente.

Nota: - A pedido de várias famílias, aí fica o Here’s a Heart, dos Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick and Tich.


Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick and Tich - Here‘s a Heart

terça-feira, janeiro 01, 2008

Notas sobre a popularidade, sucesso e outras efemeridades (2)

Os Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick and Tich enquadram-se perfeitamente no grupo de aqui falei no post anterior. Música atractiva mas sem grandes artifícios, facilmente audível e dançável, bem tocada e cuidadosamente preparada em estúdio, mas sem grandes rasgos.
Cada single dos Dave Dee’s que era editado, parecia destinado aos tops. A série iniciou-se com “Hold Tight” em Março de 66 a atingir o 4º lugar de vendas em Londres (a 1ª tentativa a sério tinha acontecido já em 65 com You make it move”, de Blaikley & Howard, mas não tinha passado do 26º lugar), e continuou com sucesso até fins de 68 - “Wreck of the Aontoinette, 14º lugar nas charts - altura em que se “respirava” já um prenúncio de fim, que veio em 69 após a edição de dois singles que não conseguiram o top 20. Para ajudar, o sucesso nos EUA também não lhes tinha sorrido.
Pelo meio, e como já referi, uma sucessão de hits, entre os quais Bend it (2º lugar nas charts), Bend it (3º), Save Me (3º), Zabadak! (3º) ou Legend of Xanadu, este a atingir a ser o 1º nos tops 3m Fevereiro de 68.

Legend of Xanadu

O (breve) sucesso do grupo deveu-se em grande parte á inspiração de Alan Blaikley e Ken Howard, os seus managers, mas também à vistosa apresentação. Numa altura em que se as inovações no campo musical eram quase diárias, os Dave Dee inovavam…no aspecto visual. O que obviamente não era o suficiente. Quem analise a sua evolução musical obterá uma linha de gráfico quase horizontal.
Muitos anos depois, o que resta dos Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick and Tich é a sua inclusão nas incontáveis colectâneas de música dos anos 60, a evocação de Hold Tight em “Prova de Morte”, e muito pouco mais.

Hold Tight


Nota: será interessante referir que a dupla Blaikley/Howard tinha sido a "responsável" pelo sucesso (temporalmente, muito curto) dos Honeycombs (Have I the right, remember?)

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