terça-feira, novembro 28, 2006

Reflexões e Novidades

Há um conhecido meu, conhecimento de décadas, que ouve muito pouca música que não seja dos anos 60/70. Ou melhor, ele vai ouvindo, só que são os trabalhos de músicos que já vêm dessa altura, seja o Bob Dylan ou os ZZ Top, Neil Young ou o Knopfler. Para ele, a verdadeira American Band continuam a ser os Grand Funk Railroad e heavy, só mesmo o dos Led Zeppelin, e o verdadeiro herói americano continua a ser Jim Morrison e as suas portas. Não é que eu pense que ele tenha mau gosto musical, a discoteca dele, apesar de não ser muito grande, demonstra algum critério (isto na minha óptica, claro): passa pelos já mencionados e também pelos Génesis, algum jazz, Gentle Giant, alguma soul. E mais algumas coisas dentro da mesma linha.
Mas acho um bocado estático. Já repararam como ficaria limitada a vida sentimental do meu muito admirado Rob, do Alta Fidelidade se ele fosse assim? É que para este meu conhecido, não há mais guitarra para além da de Jimi Hendrix ou Eric Clapton, e chega ao extremo de se pronunciar depreciativamente sobre grupos como os Depeche Mode dizendo que o acha “um bocado amaricados”. De modo que já estão a ver a minha surpresa quando aqui há uns dias me veio dizer que tinha ouvido um grupo novo que não lhe desagradava de todo. Quando lhe perguntei qual era, respondeu: “Os Verve”. Mas ele ainda ficou mais espantado quando lhe disse que os Verve já se tinham separado para aí há uns 6 anos.
O homem anda mesmo a leste.

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A Maior Banda do Mundo, revisitada

Doa a quem doer, os Beatles serão sempre a maior banda do mundo. Numa discografia limitada pelo tempo escasso que permaneceram juntos constituída para aí por umas duzentas canções, procura-se, procura-se, e o detractor sai desiludido porque não consegue encontrar uma a que possa chamar fraquinha.
Este remix feito pelo antigo produtor do grupo e pelo seu filho, está bonito, e há algumas canções que nem parecem as mesmas, apesar da qualidade se manter elevada. Por exemplo esta, que já era uma das minhas mais (embora eu considere que mais são elas todas)


I am the walrus - The Beatles, álbum LOVE, remix de George Martin para Le Cirque du Soleil

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Enfim, Damien de novo

Rice prometeu com o seu “O” algo que ninguém deveria estar muito certo o que seria, tal a exuberante qualidade da obra. Manter aquele nível seria difícil, pelo que, da minha parte havia um certo receio que o passo seguinte fosse uma desilusão.
Para muitos, sê-lo-á. Mas como digo, a missão era quase impossível. “O” será um dos álbuns da década, tal como Grace, de Jeff Buckley, o foi na década anterior. E a analogia é propositada, sim.
Neste “9”, ( a sua canção inicial intitula-se 9 Crimes), Damien passeia-se pelo seu jardim secreto de mão dada com etérea Lisa Hannigan, com a suavidade do costume, na voz não há truques e a viola e piano são tratados com o carinho que uma mãe tem pelo filho recém-nascido, e nem mesmo canções improváveis como “Me, my yoke + I” parecem intrusas. Durante algumas passagens desta obra sou inadvertidamente levado a canções de Cohen. Poderá a alguns parecer blasfémia, mas espero tanto deste irlandês, que não me repugna prever que um dia ele possa ocupar o lugar do septuagenário canadiano.
Como digo, “O” seria (quase) inalcançável. “9”, sem se alcandorar aos píncaros, atinge um nível muito apreciável e merece uma audição atenta e respeitosa.


9 Crimes - Damien Rice

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Vou processar o Mega Ferreira por plágio!

domingo, novembro 26, 2006

As músicas da minha vida - V

P. J. Proby era o senhor do excesso, da excentricidade a roçar por vezes o ridículo, simbolizava a procura quase doentia de evidência, de fama, não importando muito os artifícios a que se recorre para o conseguir. No caso dele, bastaram umas calças de veludo demasiado justas entre pernas, que se rasgavam durante a actuação. E o facto é que, para além do seu inegável talento - mais evidente em actuações ao vivo, que eram sempre espectaculares - era esse acontecimento “inesperado” que atraía as milhares de fans inglesas aos seus concertos. E foi na Grã-Bretanha que conseguiu a notoriedade que a Califórnia natal sempre lhe negou.
Sol de pouca dura, porque a vida desregrada e as decorrentes bancarrotas o remeteram novamente ao anonimato. Curiosamente, nos anos 90 tentou relançar a sua carreira com algum sucesso, mas nunca atingindo a notoriedade de outrora. E continua a ter clubes de fans.
É dele a talvez mais conhecida versão (original será, disso não tenho dúvidas) deste Rock da Pneumonia e o Boogie-Woogie da constipação



P.J. Proby - Rockin‘ Pneumonia and the boogie woogie flu

PJProby Capa

sexta-feira, novembro 24, 2006

As músicas da minha vida - IV

Alan Price


Uma nota prévia: reabro esta rubrica com o intuito, não só, e uma vez que vai ser composta de textos curtos, actualizar mais assiduamente - se possível, diariamente - este meu pequeno e muito pessoal espaço, mas também dar a conhecer algumas daquelas que considero pequenas pérolas, constantes da minha discoteca. E obviamente, apresentá-las-ei aleatoriamente, não obedecendo portanto, a qualquer ordem cronológica ou sequer de preferência.
Começo com Any Day Now, cantado pelo Alan Price, uma pequena canção de que gostei logo à primeira audição, e nem sequer tenho qualquer explicação para a empatia imediata. Trata-se de uma canção muito simples, a vertente musical não tem grandes artifícios, mas agrada-me sobremaneira a vocalização de Alan.
Registe-se que Alan Price, desde sempre um homem dos Rytm’n’Blues britãnicos, é o senhor que tocava aquele extraordinário órgão em “The house of the rising sun”, dos então emergentes The Animals, grupo que liderava juntamente com Eric Burdon, o vocalista, e que abandonou devido às constantes viagens do grupo, facto que colidia com o seu assumido horror por viagens aéreas. A partir de então, formou o seu próprio grupo de apoio que limita as actuações ao vivo á Grã-Bretanha.
Como é evidente, o seu virtuosismo nas teclas foi sempre a sua imagem de marca.
Para a próxima, trarei um seu amigo muito chegado e com o qual repartiu muitas vezes o palco, Georgie Fame.

Price to play


Alan Price - Any Day Now

domingo, novembro 05, 2006

The Move - Ou o psicadelismo em todo o seu esplendor


Não me recordo se já os referi aqui, mesmo que ao de leve, mas mesmo que o tenha feito, reafirmo aqui a importância que este grupo - The Move- teve, no despertar do meu interesse pela música psicadélica que literalmente varreu Inglaterra e Estados Unidos na 2ª metade dos anos 60, e que ainda hoje tem seguidores.
Hoje, já só são reconhecidos por alguns nostálgicos, e no entanto não tenho receio de dizer que foram eles os autores de algumas das músicas que mais sucesso tiveram nos tops entre 1966 e 1969. Curiosamente, os seus sucessores - como se sabe pela altura era vulgar os grupos assumirem novas entidades, muitas vezes mesmo que o line up se mantivesse quase inalterado, o que não foi o caso - os Electric Light Orchestra serão porventura mais conhecidos, e no entanto nunca me agradaram tanto como os Move, talvez porque as suas composições passaram a ser mais rebuscadas, grças ao surgimento do rock sinfónico, movimento no qual

The Move

de certo modo, se integraram.
Este grupo de Birmingham, formado como suporte para David Bowie, na altura actuando ainda sob o nome de Davy Jones, e que era na sua génese liderado por Roy Wood e Carl Wayne, a voz do grupo, depois com o apoio de Jeff Lynne, pouco sucesso teve no mercado americano apesar do seu estilo de música, mormente no que dizia respeito ás harmonias de vozes, tinha muito a ver com o que então se fazia na West Coas, nomeadamente por grupos como os Moby Grape (que terá sido um dos maiores flops musicais americano, um grupo que se assegurava ir dominar a cena musical norte-americana e que acabou sem honra nem glória), ou os Love, de Albert Lee.
As actuações ao vivo dos The Move, só teriam comparação com as dos The Who, nomeadamente devido ao ambiente catastrófico que as caracterizava, com a destruição de televisões e instrumentos musicais, e ficaram quase como uma imagem de marca, de tal forma que chegaram a ser banidos da maior parte das salas de espectáculos da Grã-Bretanha e no resto da Europa, devido ao caos que na maior parte das vezes delas resultava.
As campanhas de lançamento de novos discos não eram menos estrepitosas, e numa delas chegaram a fazer figurar o então 1º ministro inglês, Harold Wilson, em trajes menores, que lhes valeu uma acção judicial e a consequente e pesada indemnização. Mas seria de todo injusto dizer que a fama que então gozavam provinha de factos marginais à sua qualidade musical.
Na altura, a onda musical mudava rapidamente, e a maioria dos grupos, se queriam ter sucesso, tinham que mudar com ela, ou serem os próprios a próprios a serem a força motriz de tais mudanças. Mas essa função, a de determinar os rumos, só está ao alcance de alguns. E as mudanças que os líderes do grupo foram efectuando no rumo musical do grupo que causou insatisfação em alguns dos seus membros, que aos poucos foram abandonando o barco. De tal forma que, a certa altura, deixou de fazer sentido manter-se o grupo, tendo os membros remanescentes resolvido fundar os ELO.
Dos The Move, ficaram álbuns como “The Move” ou “Shazam”, e grandes hits como Fire Brigade, I can hear the grass grow, Hey grandma ou Flowers in the rain (muito ao gosto de então, do Flower Power).
Poster

Nota - Nesta corrente, e porque provavelmente não mais falarei deles, gostaria de deixar aqui uma nota sobre alguns grupos há muito desaparecidos e esquecidos, mas que têm alguns trabalhos assinaláveis:
Os já referidos Love e Moby Grape, os Traffic (um grupo extraordinário, lderado por Stevie Winwood e Jim Capaldi), Association, Lemon Pipers, Strawberry Alarm Clock, Pinkerton Assorted Colours ou os Soft Machine.