sexta-feira, junho 24, 2005

Rythm'n'Blues II


Os grupos de rhythm’n’blues que abundavam em Inglaterra, tinham grande aceitação juntos dos jovens portugueses, apesar dos pioneiros, os negros norte-americanos serem quase totalmente desconhecidos.

No Em Órbita, todos os dias tocavam os Animals, os Stones (e convém aqui dizer, que ao contrário do que se poderá supor, por cá, geralmente quem gostava dos Stones, também gostava de Beatles) os Manfred Mann, Them, Yardbirds...

Estes últimos, que integravam o então jovem Eric Clapton, numa tentativa de alcançar notoriedade, iniciaram uma era de experimentalismo e incluíram pela primeira vez numa canção, um instrumento até à altura nunca usado em música popular, o cravo (creio que lhe chamavam na Grã-Bretanha, harpsichord). A canção chamava-se For your love, e fiquei fascinado quando a ouvi pela primeira vez. Mais tarde, foi considerada a primeira canção psicadélica de sempre (outros estudiosos do fenómeno dizem ter sido o Eight Miles High, dos Byrds).
Com essa música, os Yardbirds atingem os tops, mas curiosamente, perdem o seu guitarrista. Com efeito, Clapton, na altura um purista na questão dos blues, considerou que aquela canção era um transigir inconcebível às imposições comerciais das editoras e bateu com a porta.

Clapton pouco depois junta-se a um dos “pais” dos blues brancos, John Mayall e os Bluesbreakers, que já tinham na sua constituição nomes de peso como John McVie que integraria os Fleetwood Mac, e Hughie Flint, que derivara dos Manfred Mann e depois formaria o McGuinness Flint.


Nos Yardbirds, Jeff Beck, outro “grande” da guitarra, toma o lugar de Clapton, e o grupo segue no caminho iniciado com For your love, mais pop, mais top e menos blues. Curioso é que Jeff, tempos mais tarde será substituído por Jimmy Page, outro enorme guitarrista, e com o qual os Yardbirds, depois de muitas convulsões internas, deixam cair o seu nome original para assumirem o de Led Zeppelin. Mas isso é outra história.

Pela sequência dos guitarristas que passaram pelos Yardbirds, possivelmente os três maiores da década de 60, se exceptuarmos Jimi Hendrix, se mede a importância do grupo a musical de então.

Entretanto, a cena musical inglesa estava prestes a ser tomada pela voz extraordinária de um miúdo de 16 anos, Stevie Winwood, que integrava os Spencer Davis Group, e que mais tarde se encontraria com Clapton nos Blind Faith, grupo de curtíssima duração, suficiente para a feitura de um álbum que ficou na história, não só pela qualidade da música, mas também pelo escândalo provocado pela capa original, interdita nos EUA durante alguns anos.

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Poster do Festival de Filmore
com os Yardbirds no topo, ao lado dos Doors



Banda Sonora: For your love - Yardbirds

quarta-feira, junho 22, 2005

Grace

Hoje, dou um salto na história. Não que estas minhas notas pretendessem estabelecer qualquer cronologia, tão só situar-vos e dar-vos a conhecer de como foram os meus primeiros contactos, com esta música que há tanto me acompanha. Daí então, a pouca importância do salto.
A figura que hoje trago, Jeff Buckley, deixou-nos há pouco mais de 8 anos, num final de Maio quente no Mississipi, com o sabor amargo que sentimos sempre que parte alguém tão jovem e promissor como ele era, e da forma absurda como aconteceu. Há famílias que parecem marcadas pela tragédia, e a dos Buckley será uma dessas, uma vez que o seu pai, Tim Buckley, uma das grandes referências dos anos do Peace and Love, também abandonou a cena faz neste fim de Junho precisamente 30 anos. De forma tão trágica como o filho, mas talvez não tão inesperada.
Mas se hoje referencio Jeff Buckley é porque há uns dias falei das análises que se fazem anualmente das melhores obras editadas em inúmeras revistas ou programas de rádio.
É uma tarefa dificílima, e quando ouço ou leio alguém a meio de um ano dizer que o Álbum X ou o Álbum Y irá ser o melhor do ano, sorrio e passo à frente.
Se considero a tarefa difícil, imagine-se agora que seria se me pedissem para eleger, por exemplo, o Álbum de uma década. Responderia que era uma daquelas tarefas impossíveis.
No entanto, e se me pedissem que elegesse o Álbum da década dos 90, não hesitaria : Grace, de Jeff Buckley. Mesmo sabendo que nesse espaço de tempo tinham sido editados Álbuns como Automatic for the People, Nevermind, White Ladder e muitos outros.
No entanto, Grace paira muito acima de todos eles. É uma obra completa de inigualável beleza, que se ouve de princípio ao fim com um prazer inacreditável. A cada nova audição, fico a pensar como seria o próximo, que infelizmente Jeff nunca conseguiu completar.
E volto a ouvi-lo, ou vou à procura de um dos que gravou ao vivo, para saborear os cambiantes diferentes que ele dava a cada nova versão.

grace Jeff Buckley


segunda-feira, junho 20, 2005

Rythm'n'Blues I

The Animals, liderados pela voz de Eric Burdon, o branco mais negro de Inglaterra,como então lhe chamavam,e pelo órgão avassalador de Alan Price(o órgão era quase uma novidade neste tipo de grupos),estourou nos tops em 25 de Junho de1964 com um tradicional, House of the rising sun, e tornaram-se assim, como o grupo britânico de Rythm’n’Blues mais importante, a par dos Rolling Stones, que na altura ainda não tinham atingido uma liderança indiscutível no mercado discográfica
Foi aliás desta corrente, de que foram percursores John Mayall, Alexis Korner e Graham Bond, influenciados pelos blues negros norte-americanos, que saíram grandes nomes da cena musical da primeira metade dos anos sessenta, alguns dos quais perduram até hoje, como Van Morrison, na altura vocalista dos Them, e autor de uma das mais vertiginosas canções então tocadas, Gloria, uma espécie de ponto de partida do que seria o hard-rock, no caso, com raízes irlandesas.
Quando ouvi o Van cantar daquela maneira, fiquei verdadeiramente impressionado. Nunca tinha ouvido ninguém utilizar daquela maneira a sua raiva juvenil (ele era na altura um pós-adolescente). Curiosamente, o título de um LP lançado uns tempos depois tinha como título The Angry Young Them.
Ouvindo-os, veio-me a curiosidade de conhecer as suas influências e foi assim que cheguei a Howlin’ Wolf, Muddy Waters, John Lee Hooker...
E também a Sonny Boy Williamson, que no início do mesmo ano estivera na Grã-Bretanha no festival de Rythm’n’Blues de Birmingham, e tinha tido como grupo de apoio, um grupo de cinco rapazes chamado Yardbirds, no qual os solos de viola estavam entregues aEric "slowhand" Clapton

Banda sonora: Baby, please don’t go, Them

A Indústria Social e a Paixão

É normal, quando acabamos de conhecer alguém, falarmos sobre os nossos gostos musicais. No fundo – tal como acontecerá com o cinema ou a literatura – por aí poderemos começar a dar uma imagem de nós, a definirmo-nos perante o outro, fornecer uma primeira indicação de factores tão díspares quanto as raízes culturais, o grau de sofisticação, ou o nosso gosto. É nesse âmbito que habitualmente tenho de disfarçar um franzir de sobrolho quando obtenho como resposta à pergunta “de que música gostas?”, “de tudo!”. Ah, pois. A minha primeira reacção será pensar precisamente: “pois, quem diz de tudo diz de nada, não tens grande posição perante o assunto”. Se, à partida, é perfeitamente legítimo o gosto pela multiplicidade de sonoridades, também acaba por ser verdade que irei valorizar tal resposta apenas vinda de quem mostre uma cultura musical realmente sólida. Caso contrário, entendê-lo-ei apenas como uma resposta vaga e fugitiva, escamoteadora de uma falta de paixão.
Cultura musical, disse? De que estou a falar? É certo que a música é, em primeira linha, uma arte. Mas desde há muito tempo ela aparece-nos tão intimamente ligada a outros factores que a nossa relação com a música diverge para uma série de sinais sociais fornecidos sobretudo pela dimensão industrial que envolve as produções destinadas a um público global. Ou seja, acaba por não estar em causa de forma central a mensagem meramente sonora, a suposta qualidade musical em termos estritamente artísticos, quando queremos entender-nos quanto a essa solidez cultural. No fundo, e dito de uma forma mais simples, antes de podermos discutir se isto é melhor ou pior do que aquilo em termos musicais haverá que definir os nossos conhecimentos sobre o objecto do nosso discurso. A música folclórica – por mero exemplo – poderá encontrar muito poucos adeptos fervorosos dentre aqueles que agora lêem este texto. Mas se eu (que não é o caso) for especialista em tal estilo, poderei aí demonstrar uma cultura musical apurada a qual se sustentará por si, independentemente de quem me ouve ou lê se identificar com o prazer de ouvir tal estilo.
Serei, pois, culto quando conheço e entendo. Se gosto ou prefiro, a conversa é outra. E o universo de conhecimentos possíveis é, nesta matéria, gigantesco; muito maior do que o que é humanamente razoável dominar por completo. Mas quando gostamos mais deste ou daquele estilo, esse nosso gosto será tão mais legítimo quão mais conhecermos sobre aquele. Isso pode ter uma dimensão imediata, como saber identificar os trabalhos e os seus intérpretes e autores, e outras mediatas, que podem passar por conhecimentos biográficos sobre tais intérpretes, ou outros de enquadramento espacio-temporal.
Para quem a cultura musical é escassa, e ainda que sinta e diga que gosta de música e que ouve de tudo, será totalmente estéril ouvir um aficionado falar sobre a sua paixão, porque inevitavelmente irá deparar-se com um chorrilho de nomes que não consegue associar aos sons que lhe estão subjacentes. Para quem não é, a discussão irá situar-se ao nível da fruição, da troca de sensibilidades, com maior ou menor identificação através do prazer de ouvir, tornando-se muito difícil a partir daí escalonar os vários conceitos musicais devido à subjectividade do gosto.
Aí, resta-nos o prazer da partilha.
Neste espaço tentarei descobrir ou redescobrir com quem nos lê as dimensões da minha paixão pessoal pela música. A linha em foco será muito diversa da que tem alegrado esta página através da experiência de Yardbird, e por isso desde já o alerta.
Até breve!

domingo, junho 19, 2005

Mudança

Quando há dias decidi a tornar realidade este sítio, disse que seria aberto à colaboração e que todos os contributos seriam bem vindos, até porque tenho cada vez mais a noção que tantos são os caminhos ora percorridos pela música, que difícil é ter um conhecimento aprofundado de todos eles.

Foi a partir dessa perspectiva que fiz o convite ao Didjei e à Vaca Louca, que aceitaram e que agora se juntam graciosamente ao painel de redactores do blog.
Naturalmente, que as escritas serão diferentes, como o serão os estilos de música abordados. A não ser assim, seria descabida a abertura.
Assim, também o formato será ligeiramente diferente, em primeiro lugar porque a música deixará de figurar na barra lateral e de se iniciar simultaneamente com a abertura do blog. Passará a estar disponível no final de cada post e só soará quando o leitor entender carregar no start do player. Ora, como em princípio,cada redactor editará no fim de cada post uma canção/música diferente, passarão então os ilustres visitantes a ter mais que uma opção para ouvir enquanto lêem, ou, se se derem ao incómodo, até as podem ouvir todas.
Alarga-se assim o leque disponível, o que, decerto, e é essa a intenção, enriquecerá este espaço.
Espero sinceramente que vos agrade, e vos dê o prazer que nos dá a nós.

sexta-feira, junho 17, 2005

Otis

Do outro lado do Atlântico, emergia uma voz negra incomparável. Ainda numa fase em que os cantores negros eram claramente discriminados, era tarefa hercúlea para alguém daquela raça impor-se. Mesmo os grandes nomes do jazz viviam em situação quase miserável, à excepção de dois ou três eleitos.
E Otis Redding acabou por ser deles à custa de muito trabalho, persistência, mas sobretudo, de talento. Mesmo assim foi difícil e lenta foi a sua ascensão, apesar das suas qualidades vocais excepcionais. Vindo das escolas naturais dos negros, os Espirituais das igrejas, tinha uma voz imponente, com uma amplitude impressionante que percorria a escala de alto a baixo sem qualquer dificuldade. Lembro-me que por essa altura os Animals vieram dar dois concertos ao Monumental, o que era um verdadeiro acontecimento, visto que por esses tempos Portugal estava completamente fora de qualquer mapa de tournés dos grandes nomes da cena musical. Como é sabido, o português tem aquela tendência muito sua para fazer tudo em cima do joelho e depois há problemas. Foi o que aconteceu, de repente o sistema de som deixou de funcionar, os microfones não soltavam um pio e o Eric Burdon estava possesso. Depois de duas ou três ameaças de abandono de palco debaixo de enormes vaias, o desesperado vocalista deitou fora o micro, e metendo as mãos ao lado da boca, fazendo assim um megafone improvisado megafone, começou a cantar. E a demonstrar que o micro afinal era quase dispensável. Foi um alarde extraordinário e que deixou a malta ao rubro. Lembro-me que me virei para um amigo a meu lado e lhe sussurrei:
- Imagina que era o Otis, com aquele vozeirão!. O Monumental vinha abaixo!
De realçar que Otis foi o primeiro cantor negro a actuar no Festival de Monterey, o que numa época em que a discriminação racial estava na ordem do dia, já quer dizer alguma coisa.
Durante dois/três anos, foi o rei da Soul music, ao lado da grande Carla Thomas, com a qual aliás, gravou pelo menos um disco em dueto, mas a sua carreira acabaria abruptamente, desaparecendo num trágico acidente de avião. Nunca mais me esqueci da emoção que senti quandonuma tarde fria de Dezembro, ouvi a voz do locutor do Em Órbita (não tenho a certeza se já era o Cândido Mota), a anunciar o infausto acontecimento

Como legado, deixou canções intemporais como Try a Little Tenderness, These Arms of Mine, Fa-fa-fa-fa ou Respect. Mas acima de todas, aquela porque todos os que viveram a sua geração sempre o recordarão, e que, tendo sido editada postumamente, foi o seu maior êxito: Sittin’ on the Dock of the Bay

Banda sonora: (Sittin'On) The Dock of the BayOtis Redding

quinta-feira, junho 16, 2005

Em Órbita

Digo na lateral, que nada se pode conhecer e verdadeiramente apreciar, se se desconhece as suas raízes.
Ora este homem aqui ao lado, é um dos grandes inspiradores de muito do que se faz, desde há décadas, a nível de música popular. Por cá, que o diga o Rui Veloso. Robert Johnson, apelidado King of the Delta Blues, foi a fonte onde foram beber Eric Clapton e Jeff Beck, Stevie Winwood ou Peter Green. É a ele que agradeço muitas das horas de prazer que tenho usufruído ao longo da vida.
*
Após o fim precipitado do Ritmo 64, surgiu na mesma frequência, aquele que seria talvez, o melhor programa de rádio de todos os tempos, e sem dúvida o mais inovador e revolucionário: Em Órbita. Eram, no início, 45 minutos de música só interrompidos a espaços pelo locutor assertivo e com informação oportuna. O programa era "anunciava" o seu início e o seu fim com o Revenge, um instrumental dos Kinks. Os separadores, eram, invariavelmente, excertos pequeneninos de Vivaldi, as Quatro Estações, normalmente.Uma das originais afirmações repetida no programa era:
Gostos, primeiro educam-se, depois discutem-se”.
Nunca mais me esqueci desta máxima, tão contra a corrente.
Nunca me esqueci da perplexidade causada (e consequentes protestos) quando em 1966, no rescaldo que habitualmente faziam ao fim de cada ano, dos melhores e dos piores, elegeram o Strangers in the Night, cantado pelo até então intocável Frank Sinatra, como a pior canção do ano.
*

A primeira distorção que ouvi, foi a que iniciava o primeiro hit dos Kinks, You really got me”.
Conta-se que foi acidentalmente que Dave Davies, quando afinava a viola numa sessão de gravações, conseguiu aquele som, e aquela nova sonoridade acabou por se tornar, durante algum tempo a imagem de marca do grupo. Hoje, para um guitarrista iniciado, aquilo será básico, mas na altura, teve um impacto excepcional. E a verdade é que as violas nunca mais soaram da mesma maneira

Banda sonora: Revenge- Kinks

quarta-feira, junho 15, 2005

Da importância de Scott Walker

Hoje faço um pequeno desvio no fio condutor que tinha estabelecido para o blog, mas trata-se de uma mera questão estratégica, e nem vai alterar o seu perfil. Amanhã, retornará onde agora me desvio.
É que queria hoje falar de Scott Walker, na minha óptica, um dos nomes mais importantes e uma das maiores influência de muita da música que hoje se faz, e que, ao longo dos anos, tem sido injustamente esquecido.
Em contra ciclo com a British Invasion, desembarcaram em Londres para tentarem a sorte que lhes fugia nos EUA, quatro rapazes, um que tomara o nome artístico de P. J. Proby, personalidade extravagante que conseguiu uma ascensão meteórica, mais graças às suas bizarrias que propriamente ao seu talento musical, e de que falarei mais tarde, e três jovens de Los Angeles que formaram um grupo, os Walker Brothers.
A figura dominante era, sem dúvida, o seu vocalista, Scott, possuidor de uma voz extraordinária, e, como se provaria daí para a frente, dono de um sofisticado gosto nas orquestrações. O grupo não duraria muitos anos, embora tenham tido vários hits nos tops britânicos e americanos, como o que serve de soundtrack para hoje, Make it Easy on yourself, ou The Sun ain’t gonna shine anymore, e Scott decide-se por uma carreira a solo
Scott tem uma personalidade introspectiva, por vezes, quase sombria, e a sua música é o espelho disso. Mas é também reflexo do seu gosto distinto, do seu cuidado com as palavras.
Aqui, cabe uma nota para referir, que, na minha opinião, as letras das canções só começaram a ter preponderância a partir do aparecimento de Bob Dylan (nessa vertente, os franceses funcionavam ao contrário). Até então, salvo uma ou outra excepção, eram rudimentares, quase sempre uns versos de amor um bocado básicos até, e que não passavam mero acessório para demonstrar as qualidades vocais.
Mas com Scott, a palavra é importante. E a escolha é criteriosa. Tanto, que Jacques Brel, sempre tão avesso a versões noutras línguas das suas músicas, quando Scott lhe enviou algumas das versões que tinha feito, acedeu com muito agrado a que o músico norte-americano gravasse um Álbum, magnífico, assinale-se, que se chama “Scott Walker sings Brel”, com músicas suas, cantadas em inglês.
Talvez por nunca ter condescendido com o facilitismo e com as vontades comerciais das discográficas, a sua carreira não teve a fulgurância que mereceria. Mas os músicos que foram por si influenciados, de Nick Cave e Marc Almond a Neil Hannon (Divine Comedy), de David Sylvian e Mick Harvey a Cousteau, aí estão para atestar as suas inegáveis qualidades.
Ouça-se Hannon ou Liam McKahey, e em seguida Scott Walker, e verificar-se-á que, em muitos casos, as influências se estendem mesmo ao timbre de voz e à maneira de cantar.


Scott, na minha óptica, tem sido ao longo de décadas, menosprezado. Mas a mim, tem-me acompanhado sempre, e fica-me a satisfação por ver que ainda hoje ele é exemplo para muitos músicos

Banda sonora: Make it easy on yourself, The Walker Brothers

terça-feira, junho 14, 2005

She Loves You versus Carol

A primeira vez que notei que havia algo mais debaixo do sol além do fado ou da música dos serões para trabalhadores, foi quando ouvi o She Loves You, dos Beatles, que foi cá divulgado antes do seu primeiro hit nas tabelas inglesas, o Love me do.
Já ouvia Elvis, que nunca me cativou por aí além, e mais alguma coisa que ia passando nas rádios, Ray Charles, Del Shannon, Peggy Lee. Na verdade, o Fever cantado pela Peggy será até, uma das canções da minha vida. Mas só comecei a apreciá-la devidamente muito tempo depois. O She Loves You é que leva tudo à frente e altera toda a visão que eu tinha até então da música. Na mesma altura, surgem as emissões em FM e é naquela onda do Rádio Club Português, que começo a ouvir um programa chamado Ritmo 64, cujo propósito, era divulgar a música anglo-americana. Durante 3 quartos de hora, entre as 21,15h e as 22,00, emitiam sem anúncios e cada canção era transmitida sem interrupção do locutor, que tinha uma intervenção muito reservada, limitando-a à menção do nome da música e do intérprete, permitindo assim a gravação das músicas integrais. E como na altura não havia programas de downloads de música, e os discos eram caros...Em determinado dia da semana, divulgava também os singles mais vendidos (segundo o New Musical Express) em Londres, que nessa altura era a capital do mundo da música popular.

A importância do fenómeno que então se desenvolve na Grã-Bretanha é tão grande, que se consegue expandir ao mercado dos EUA, até então quase impenetrável, dando lugar à British Invasion, da qual, os Beatles e os Rolling Stones, foram os percursores.
Os Stones, que se iniciaram como seguidores dos rythm’n’blues negros norte-americanos, estreiam-se por cá com um EP que incluía Carol, uma versão musculada da música de Chuck Berry, Can I get a witness, It’s all over now e Tell me, um dos primeiros originais da dupla Jagger/Richards. A seguir ao She Loves you/Twist and shout, deve ter sido o disco mais tocado nas discotecas e nas juke-boxes, que então ainda não eram só peça decorativa e de museu

Banda sonora: Not Fade AwayRolling Stones

Dia Primeiro

Este canto nasce de uma vontade que já vinha de há muito de partilhar com os outros um gosto antigo pela música, ou melhor dito, por alguma música, minha companheira de sempre. Não esperem nada de muito sofisticado nem sequer uma análise crítica e exaustiva.Os meus conhecimentos sobre a matéria são limitados, baseados na vivência e mais intuitivos que alicerçados em muitos conhecimentos técnicos, o que desde logo afasta qualquer tipo de pretensiosismo da minha parte. Leio, ouço, analiso segundo os meus padrões, e é tudo.E dado que a pretensão ficará arredada, não falarei de música clássica, limitando-me á faixa de música, habitualmente dita popular. Adianto mais, que as opiniões por mim aqui expressas não pretendem ser mais que isso.
Vê-las como uma análise crítica será então um equívoco.
Entretanto, e a talhe de foice, proponho-vos que colaborem sempre que se sintam tentados a isso. As portas do blog estão-vos completamente franqueadas, e as vossas opiniões serão sempre editadas.
*
Assim, este será um blog onde vos falarei de música, e onde espero que vocês me respondam. Onde aproveitarei para vos contar algumas histórias vividas, e espero que me contem algumas a mim, que, por minha vez, me encarregarei de divulgar. Aqui vos darei também conta daquilo que gosto mais e do que gosto menos, ou mesmo não gosto nada.
Mas não só. Se surgirem outros temas, decerto serão abordados. Lançados por mim ou por vocês.
Ah! e não será decerto um blog saudosista, de quem parou no tempo. A música de que falarei, será de ontem, mas seguramente também de hoje.
*
Os primeiros acordes de que me recordo, são escutados frente ao coreto do Jardim da Estrela, de mão dada com o meu padrinho. Todos os domingos de manhã, sem falta, desde que uma banda, geralmente a da GNR que ainda tem ali ao pé um quartel, lá toque. É também desse tempo, o adormecer sentado aos pés dele, que se sentava numa cadeira de baloiço a ouvir o Programa 2 da Emissora Nacional. Compreendam que tal música, por muita qualidade que tivesse, e agora sei que assim era, tinha um efeito soporífero numa criança como eu
A verdade é que os meus primeiros anos de vida, no que respeita á música, nunca tiveram nada de extraordinariamente assinalável, a não ser que vos fale das aulas de Canto Coral

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no Liceu Pedro Nunes, leccionadas pelos inesquecíveis Professores Barral e Cirilo, nas quais o que se cantava tinha muito pouco a ver com o que os mestres queriam, e que originavam quase sempre em mim, ataques de riso de tal maneira incontroláveis, que raramente não acabava uma aula no corredor, posto fora por um dos sobreditos e respeitáveis professores.

Nota1 - Esta, é uma mera apresentação dos propósitos do blog. Mais logo, voltarei para começar com ele a sério