sábado, junho 05, 2010
quinta-feira, março 06, 2008
A 6 de Março de 1975
Mas isso é mesmo outra história, e hoje estou aqui para reatar, e para relatar um dos episódios mais marcantes da minha relação pessoal com a música, e que teve lugar numa longínqua noite de Março de 75.
O meu amigo O, balconista de loja de tecidos de luxo da Rua Augusta, dissera-me uns tempos antes que os Genesis vinham cá. Na altura, as minhas preocupações eram mais familiares e de trabalho, tudo muito entrelaçado nas elucubrações políticas, mas a música tinha, como sempre, o seu tempo. E a notícia deixou-me quase sem fala. Para além de que, para mim e em certa medida, os Genesis a modos que terem tomado o lugar deixado vago pelos Beatles, até então, concertos “como deve de ser” eram uma miragem: antes do 25 de Abril, eram sempre as mesmas caras, pretensas vedetas do internacional-cançonetismo (uma das excepções,os Animals, tinham sido trazidos pelo Vasco Morgado já lá iam 10 anos), depois da celebrada data, os rumores sobre a situação política, cerceavam alguma vontade que houvesse de apresentar novidades.
Musicalmente, estava-se numa época de degenerescência do rock, com o pífio glam rock e o pomposo rock sinfónico a terem papel preponderante no panorama.
Devo dizer que, e pessoalmente, sempre considerei que musicalmente terá sido das épocas menos profícuas, embora meia dúzia de nomes - Zappa, Jethro Tull, Waitts, CSN&Y, Chicago, Pink Floyd e pouco mais - fossem alimentando as minhas necessidades melómanas.
Confesso a ansiedade que se apossou de mim, desde esse dia e a data do concerto. Principalmente desde a edição de “Selling England by the Pound” que era um indefectível da banda de Peter Gabriel, e o recente “The lamb lies down” tocava todos os dias no meu velho Onkyo. Tinha visto uns excertos de um concerto dos Genesis e tinha ficado quase petrificado pela espantosa e teatral actuação de Gabriel.
O dia, 6, foi passado em planeamentos que, estava mais que visto, só serviam para que o tempo passasse mais depressa. Apanhámos o comboio no Cais do Sodré com a aconselhada antecedência, previstas que estavam grandes enchentes, e jantámos num simpático restaurante perto do Pavilhão, e para lá rumámos depois. A multidão que se aglomerava nos acessos não augurava nada de bom. Os tropas que guardavam as entradas, olhavam para aquela mole humana e sabia que a bolha iria rebentar mais cedo ou mais tarde, e que as G3 que empunhavam não iriam dissuadir ninguém. E assim foi. Às tantas senti-me transportado para dentro do recinto no meio daquela vaga, havendo alturas em que nem pus os pés no chão. O meu amigo O, chegou a Lisboa com uma meia sola de sapato a menos. Bilhete? Veio intacto para casa, tal como tinha ido. O espectáculo? Algo de quase indescritível. Procurei um lugar perto do palco, ou pelo menos onde pudesse ver alguma coisa. Acabei por me safar, embora ficasse em equilíbrio instável em cima de duas cadeiras, um pé em cada uma e com um gajo que fazia dois de mim a apoiar-se no meu ombro. Lembro-me que na altura aquilo me pareceu aquelas pirâmides humanas dos circos. Até que a meio, aquilo veio tudo abaixo, e fiquei com uma perna entalada nas costas de uma cadeira, e só não a parti por milagre, ou qualquer outra coisa que lhe queiram chamar.
No ar, o cheiro a marijuana era absoluto, e estou em crer que muita daquela gente, pouco ouviu do irrepreensível recital de Gabriel, que desfrutei com um prazer imenso. O evoluir das estranhíssimas personagens de Peter através do emaranhado intenso das luzes estroboscópias, a história de Rael contada por aquela voz potente e inconfundível, apoiada no rigor musical de Hackett, Rutherford, Banks e Collins, foi quase uma celebração que me fez abstrair de tudo o resto que me envolvia.
Prevendo nova enchente, mal acabou o espectáculo, corri para o comboio, que me traria ainda meio zonzo, até Lisboa. A mim, e a muitos mais, porque só saiu da estação quando já estava a abarrotar. Até nas redes onde se punham as malas havia rapazes - raparigas havia poucas - a dormir, ou pelo menos assim parecia.
Etiquetas: Genesis
segunda-feira, janeiro 28, 2008
Ora então, os riffs...
São possivelmente de alguns dos nomes mais conhecidos da primeira geração de rock, os iniciadores deste tipo de intervenção sonora. Já aqui lembrei o muito emulado riff de Bo Diddley na canção com o seu nome próprio, mas seria injusto esquecer a influência que, nesta vertente, Chuck Berry teve nas gerações musicais seguintes, com músicas como “Johnny B. Good” ou “No Particular Place to Go”
Mas vamos por partes, e deixem-me referir alguns dos que, desde sempre, mais tocaram por aqui.
- Not fade away - Rolling Stones
- Carol - Rolliung Stones
- You really got me - Kinks
- I feel fine - Beatles
- Satisfaction - Rolling Stones
- Day Tripper - Beatles
- Baby, please don’t go - Them
- Keep on running - Spencer Davis Group
- All your love - Eric Clapton
- Layla - Eric Clapton
- Sweet Home Alabama - Lynyrd Skynyrd
- Sunshine of your love - Cream
- Walk this way - Aerosmith
- 25 or 6 to 4 - Chicago
- Tush - ZZ Top
- Black Dog - Led Zepelin
- Whola lotta a love - Led Zeppelin
- Kashmir - Led Zeppelin
- All along the watchtower - Jimi Hendrix
- Smoke on water - Deep Purple
- Purple Haze - Jimi Hendrix
- Money for nothing - Dire Straits
- Sultains of swing - Dire Straits
- Are you gonna go my way - Lenny Kravitz
- Smells like teen spirits - Nirvana
- Learning to fly - Tom Petty
Etiquetas: Riffs
domingo, janeiro 20, 2008
Incontornáveis/1966 - 3ª parte
Mas essa já é uma história conhecida. Agora, quanto ao álbum: na altura, ainda não tinham começado os desatinos de cada uma das individualidades, como aconteceria mais tarde em concertos preenchidos com extravagantes e intermináveis solos por parte de cada um dos notáveis, que faziam as delícias de uns, o bocejo enfastiado de outros, e determinou a “morte“ do grupo. Aqui, ainda as canções seguiam os cânones da época, e raramente excediam os 3 minutos. E trata-se de uma das grandes sequências melódicas e de virtuosismo que conheço, que se inicia com um excelente I Feel Free, de Bruce - que detém a autoria de mais duas ou três faixas - e passa por clássicos como Spoonful, de Willie Dixon ou I’m so glad, de Skip James.
Pet Sounds - The Beach Boys .A obra prima de uma alma torturada, a obra-prima de Brian Wilson, o solitário Beach Boy que, diz-se, vendeu a alma ao diabo em troca de inspiração para compor a obra. Bem, se não é verdade…pelo menos Wilson tornou-se íntimo do monstruoso Charles Manson.
A história deste álbum está envolta em numerosas lendas (embora não tantas como o seguinte e nunca editado "Smile"), que não vêm agora ao caso. Irrefutável é o valor do álbum, que consta em várias tabelas de apreciação global, como o melhor de todos os tempos (Mojo, NME), embora não seja essa a minha opinião, reconhecendo, no entanto, a qualidade extra da obra. Que é uma sucessão incrível de harmonias vocais e rendilhados melódicos, quase levados ao paroxismo no espantoso God Only Knows . Avaliado no seu todo, tem que se ser demasiado exigente para descobrir faixas menores.
Parsley, Sage, Rosemary and Thyme - Simon & Garfuunkel - A osmose entre a criação de Simon e a voz de Garfunkel é provavelmente, uma das mais felizes da história da música popular, mesmo que não tenha conseguido sobreviver ao desgaste da relação pessoal. Trata-se também, da primeira obra totalmente escrita por Simon, e, esta uma opinião pessoal, o melhor álbum do grupo. A sucessão de pequenas árias - só a 1ª, Scarborough Fair/Canticle excede os 3 minutos - é perfeita, nos arranjos vocais, na encenação dramática, no lirismo quase etéreo que trespassa de faixas como Homeward Bound ou Dangling Conversation.
Revolver - The Beatles - Se há álbuns que dão conta do total amadurecimento de um grupo, este será um deles. Novos sons, novas horizontes de composição, até as líricas mudavam de objectivo (ou objecto), saindo da “intimidade” básica dos primeiros tempos, para abordar temáticas mais generalistas. O elevado nível da produção começa mesmo na capa, uma obra-prima de pop-art da autoria de Klaus Voorman, um artista multifacetado que ingressaria nesse mesmo ano nos Manfred Mann.
O álbum começa com o “acelerado” rock de Taxman, para prosseguir com uma das master pieces de Lennon/McCartney, “Eleanor Rigby”, dando-se depois sequência a um desfiar de pequenas pérolas de composição, como For no one, ou a incursão no experimentalismo e em novos sons, como em Yellow Submarine.
Portrait - The Walker Brothers - Este notável álbum é a consagração daquele que era, porventura, o maior performer da década de 60, o norte-americano Scott Engel, figura algo enigmática, que juntamente com os seus companheiros de grupo (que não eram verdadeiramente irmãos como sugere o nome que adoptaram) John e Gary, tinha feito o trajecto inverso ao da British Invasion.
O Lp é um repositório de grandes baladas cantadas superiormente por Scott, com o suporte coral dos companheiros, muito ao estilo dos Righteous Brothers. O bom gosto de reportório do grupo era sua imagem de marca, uma exigência de sempre de Scott, como aliás, tem evidenciado a sua carreira a solo. De In my room a No sad songs for me, passando pelo belo Living above your head, não há defeito a apontar.
Será se referir que a reedição em cd teve como bónus o acrescento de algumas das mais memoráveis interpretações do grupo, como The sun ain´t gonna shine anymore ou Deadlier than the Male.
Dictionary of Soul - Otis Redding - Esta, uma das excepções que abro em relação aos grandes nomes negros dos r’n’blues e da soul, porque, com efeito, Otis teve uma importância quase transcendente, no panorama da rádio portuguesa por aqueles anos. E fora o Dock of the Bay, editado postumamente, este terá sido provavelmente o seu álbum mais importante.
Nele, Otis traz-nos interpretações irrepetíveis de canções suas, como Fa, fa, fa, fa, ou de clássicos como Try a little tenderness. O poder vocal, o dramatismo interpretativo de Otis, elevam a música soul a níveis nunca antes atingidos, e aos quais não se voltaria mais, após o seu desaparecimento prematuro.
Sunshine Superman - Donovan - Donovan abandona definitivamente a sua imagem de réplica inglesa (ou antes, escocesa) de Bob Dylan, e adquire identidade (embora antes já tivesse editado alguns discos de elevado gabarito, nunca conseguira fugir à etiqueta que lhe fora colada), abraçando novas sonoridades e apoiado no produtor Mickie Most, abalança-se nos novos caminhos do psicadelismo. Trata-se de uma obra de fácil digestão, e da qual são destacáveis a canção que dá nome ao álbum, ou Season of the Witch, embora faixas como a excelente Three King Fishers ou Guinevere não possam passar sem referência. No total, um álbum determinante mas algo desequilibrado.
Outros álbuns interessantes saídos em 66:
E alguns singles:
- 19th Nervous breakdown - Rolling Stones
- Alfie - Cilla Black
- Bang Bang - Cher
- Barbara Ann - Beach Boys
- Bend it - Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick and Tich
- Big Time operator - Zoot Money and the Big Roll Band
- Black is black - Los Bravos
- Bus stop - Hollies
- California dreamin' - Mamas and Papas
- Cherish - Association
- Daydream - Lovin' Spoonful
- Dead end street - Kinks
- Dedicated follower of fashion - Kinks
- Don't bring me down - Animals
- Eight Miles High - Byrds
- Eleanor Rigby - Beatles
- Friday on my mind - Easybeats
- Get away - Georgie Fame
- Gimme some lovin' - Spencer Davis Group
- God only knows - Beach Boys
- Good Lovin' - Young Rascals
- Good vibrations - Beach Boys
- Guantanamera - Sandpipers
- Happy Jack - Who
- Have you seen your mother baby - Rolling Stones
- Hey Joe - Jimi Hendrix
- Hi lili hi lo - Alan Price Set
- Hideaway - Dave Dee's
- Hold tight - Dave Dee
- Homeward Bound - Simon & Garfunkel
- I can't control myself - Troggs
- I feel free - Cream
- I put a spell on you - Alan Price Set
- I'm a boy - Who
- I'm a rock - Simon & Garfunkel
- Just like a woman - Manfred Mann
- Keep on running - Spencer Davis Group
- Land of 1000 dances - Wilson Pickett
- Mellow yellow - Donovan
- Message understood - Sandie Shaw
- Midnight to six man - Pretty Things
- Mirror, Mirror - Pinkerton's Assorted Colours
- No milk today - Herman's Hermits
- Out of time - Chris Farlowe
- Over under sideways down - Yardbirds
- aint it black - Rolling Stones
- Pamela, Pamela - Wayne Fontana
- Paperback writer - Beatles
- ied Piper - Crispian St Peters
- Pretty Flamingo - Manfred Mann
- Reach Out (I'll be there) - Four Tops
- River deep, mountain high - Ike and Tina Turner
- Running round in circles - Ivy League
- Semi-detatched Mr. Jones - Manfred Mann
- Sha la la lee - Small Faces
- Shapes of things - Yardbirds
- Sitting in the park - Georgie Fame
- Sloop John B - Beach Boys
- Somebody help me - Spencer Davis Group
- Standing in the shadows of love - Four Tops
- Substitute - Who
- Summer in the city - Lovin' Spoonful
- Sunny - Georgie Fame
- Sunny Afternoon - Kinks
- Sunshine Superman - Donovan
- The beat goes on - Sonny and Cher
- The kids are alright - Who
- The sun ain't gonna shine anymore - Walker Brothers
- Try a little tenderness - Otis Redding
- Uptight - Stevie Wonder
- When a man loves a woman - Percy Sledge
- Wild Thing - Troggs
- Winchester Cthedral - New Vaudeville Band
- With a girl like you - Troggs
- Wrapping paper - Cream
- You can´t hurry love - Supremes
- You were on my mind - Crispian St. Peters
terça-feira, janeiro 15, 2008
Incontornáveis/1966 - 2ª parte
The Spencer Davies Group - Autumn 66 -Este álbum será, quanto a mim, dos mais importantes do ano, por ser nele que se revela definitivamente um dos meninos prodígio da década, Stevie Winwood, uma das personalidades mais reservadas do panorama musical. E este facto terá de algum modo condicionado a carreira de um performer de qualidades invulgares, que nunca chegou a alcançar plenamente o reconhecimento que deveria ter tido.
Do álbum - segundo do grupo - constavam alguns dos mais conseguidos temas de r’n’blues cantados por Stevie, como Midnight Special ou When I come home, para além do seu mega-hit Somebody help me e de uma faixa que aprecio especialmente, High Time, que tinha um riff de guitarra muito semelhante ao de Keep on running.
De referir, por exemplo, o que a propósito deste álbum diz, a certa altura da sua análise, a “Classic Rock”:
“But his piéce de resistence comes on the six-minute Have You Heard, another Mayall original where Clapton effectively redefines the slow blues guitar solo for the next decade”.
The Kinks - Face to face - O primeiro álbum dos Kinks depois do seu banimento dos EUA, e que marca uma deriva (positiva) na música dos Kinks, mas principalmente da lírica de Ray Davies. É um álbum determinante também no aspecto em que se trata do primeiro integralmente composto por Ray. Creio que a “aventura americana” determinou fatalmente esta mudança, que nos traz um Davies impiedoso para com a sociedade, amargo mas cheio de humor, um humor mordaz e certeiro que na época não encontrava semelhança.
O álbum contém faixas impossíveis de omitir em qualquer compilação decente da década, como sejam Sunny Afternoon, Party Line ou o meu preferido Dandy. Ouvido o álbum, pouco se reconhece dos Kinks de You Really Got Me.
The Byrds - Fifth Dimension - Este é para mim, o melhor álbum dos Byrds. Eight Miles High, canção banida por rádios americanas, é fulcral para a emergência de um contra-ataque norte-americano á British Invasion, mas não só. A abordagem do guitarrista Roger McGuinn é completamente diferente de tudo o que até então se tinha feito e determina o nascer da era psicadélica. Mas deixar a análise do Lp por uma canção, seria demasiado redutor. As diversificadas abordagens dos Byrds aos temas, as influências jazzisticas, as inovações a nível sonoro, fazem deste trabalho, algo de memorável. Faixas a reter: Mr. Spaceman, 5th Dimension, Eight Miles High, John Riley.
The Mothers of Invention - Freak Out - Este é o primeiro trabalho editado, daquele que seria uma das personalidades mais fantásticas da cena musical mundial, da segunda metade do século XX. Na verdade, e embora os Mothers of Invention fosse um agrupamento de músicos de 1ª água, difícil seria Frank Zappa, alma-mater do grupo, não se afirmar individualmente, tal a exuberância da sua personalidade e do seu génio criativo.
Definir este álbum à luz dos padrões da época torna-se difícil, porque não respeitava nenhum. Resumidamente, pode-se dizer sem receio de errar muito, que se trata de uma obra ambiciosa de música avant garde, onde todos os conceitos musicais ou artísticos tout-court, de Zappa estão presentes, tal como a sua visão crítica sobre a conservadora e hipócrita sociedade americana e seus lideres, que seriam alvos preferenciais de Zappa durante a toda a sua fecunda carreira.