quarta-feira, maio 17, 2006

Summer of 66


Por esta altura, há 40 anos atrás, iniciava-se um dos mais importantes verões da história da música popular anglo-americana.
O começo do ano já augurara grandes lançamentos, com os Walker Brothers a editarem aquele que foi um dos seus singles mais emblemáticos: “The sun ain’t gonna shine anymore/ After the lights go out”, no qual era patente a extraordinária capacidade vocal de Scott, e os Small Face lançavam um dos maiores hits do ano, “Sha-la-la-lee”. Na verdade, a sucessão de trabalhos de qualidade era vertiginosa, dos dois lados do Atlântico, e se na swinging London continuavam novos grupos continuavam a florescer como cogumelos, dos Estados Unidos, começavam a emergir alguns dos que seriam os nomes mais marcantes da década, como John Sebastian e os seus Lovin’ Spoonful ou os Mamas and Papas. Consolidava-se então o movimento da West Coast, com epicentro em S. Francisco, e que marcaria toda uma geração. Para o bem e para o mal.



Lovin’ Spoonful – Daydream

Por cá, embora se vivesse numa sociedade obscura e provinciana, graças a um ou outro radialista mais aventureiro, lá íamos sabendo das novidades, nem que para tal se estivesse à noite a sondar a onda curta em busca do pirata Rádio Caroline, que emitia de águas internacionais, e se ouvia muito mal, mas que nos dava uma alegria intensa. Aquela alegria que nos vem de saber que participamos em algo marginal, clandestino.
É curioso que, sendo à data, a nossa sociedade muito francófona, os únicos nomes franceses que tinham alguma implantação junto da juventude eram os Chats Sauvages, Jacques Brel e Françoise Hardy. O resto, que fazia parte da música de feira promovida pelo Salut, les Copains, era pura e simplesmente ignorado.
Retomando o discurso, o que queria dizer era que nesse ano, enquanto os Yardbirds em Inglaterra com “Shapes of Things”, e os Byrds nos EUA com Eighy Miles High (música que acabou proibida em muitas estações de rádio, por pretensamente apelar ao consumo de drogas), iam dando os primeiros passos no que seria o movimento psicadélico, e os Pretty Things insistiam no seu rock agressivo que os levaria várias vezes às 1ªas páginas dos jornais pelos piores motivos.
prettythings

alguns dos grandes nomes preparavam o lançamento de LP’s que fizeram a história.
E é assim que em Maio, os Stones editam “Aftermath”, o primeiro dos seus álbuns em que todas as músicas são exclusivamente da responsabilidade da dupla Jagger/Richards, - daí grande parte da sua importância - e no qual se intercalam baladas suaves como Lady Jane, com rock do mais puro como Dontcha Bother Me ou excentricidades como em Paint it Black (onde o riff predominante é executado com uma cítara por Brian Jones).

Este LP tinha sido precedido do lançamento daquele que para mim continua a ser um dos melhores álbuns ao vivo de sempre: “Got Live if you want it”. Claro que quem ouvir este disco poderá admirar-se desta minha afirmação, mas já referi, que aqui só transparece o meu gosto pessoal.
Por perto, os Beatles preparavam uma das suas obras-primas, o extraordinário “Revolver”, considerado por alguns críticos, o mais inovador álbum de todos os tempos. Se não vou tão longe, direi que inclui uma das mais belas canções que ouvi até hoje : “Eleanor Rigby”.
Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, Dylan edita o 1º duplo álbum de sempre: Blonde on Blonde, uma obra de grande fôlego, e que marcou definitivamente a “electrificação” da folk-music do génio do Minnesota, para desgosto dos puristas.
Mas o Verão traria ainda a obra máxima do génio louco de Brian Wilson: Pet Sounds. Nele, os Beach Boys das grandes harmonias vocais ultrapassam todas as expectativas, e a sua excelência de executantes e a qualidade sonora de todo o álbum, excede tudo o que seria expectável. Provavelmente, e mesmo procurando cuidadosamente, é pouco provável que se encontrem falhas nesta obra de Brian.
(c0ntinua...)

Alinhamento de emissão do “Em Órbita”, em 17/05/1966
- Well respected man – The Kinks
- Let’s Hang On – Four Seasons
- Pied Piper – Crispian St. Peters
- Shapes of things – The Yardbirds
- You didn’t have to be so nice – Lovin’ Spoonful
- Somebody help me – Spencer Davis Group
- Day Tripper – The Beatles
- I put a spell on you – Alan Price Set
- Pretty Flamingo – Manfred Mann
- Rainny Day Women nºs 12 & 35 – Bob Dylan
- Hold tight – Dave Dee, Dozy, Beaky, Mich and Tich
- Homeward bound – Simon and Garfunkel
- California Dreamin’ – The Mamas and the Papas
- Paint it black – The Rolling Stones

quinta-feira, maio 11, 2006

Grandes músicas...

House

…em grandes series.

Confesso que é um prazer voltar a ouvir a música dos Who, agora associada a series de televisão de que sou seguidor atento, como é o caso dos CSI’s, de que já aqui falei, e agora de “House”, a magnífica série de que é protagonista o excelente Hugh Laurie.
Um dos mais profícuos nomes dos anos 60 e 7º, os The Who, grupo símbolo dos Mods, extravagantes e agressivos quanto baste em palco, podem bem ser considerados um dos ícones da década de ouro.
Com uma discografia de nível excelente, foram os percursores, juntamente com Lloyd Webber, das óperas rock, sendo os autores de “Tommy” (uma obra por demais conhecida) e “Quadrophenia”


…na senda de “Hair” e “Jesus Christ, Superstar, qualquer delas, símbolos de uma era, e de uma micro-civilização hippie de que ainda hoje temos reminiscências e da qual, muitos de nós guarda ainda gratas lembranças.
Não sendo saudosista, não consigo deixar de ter saudades dos pulos de Pete Townsend em palco, da sua viola a rodar como um moinho, ou das baterias deitadas por terra pelo malogrado Keith Moon. É que o que agora é vulgar, na altura era um desafio ao poder instituído.
E The Who era um dos símbolos da irreverência da minha geração
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The Who – Baba O’Reilly

quinta-feira, maio 04, 2006

Um banho refrescante, please!

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Four Tops – I can’t help myself

Hoje, apeteceu-me voltar a ouvir alguma da grande música negra dos anos sessenta, que há muito não ouvia.
Foundations


A razão é simples: na rádio do carro acabei de ouvir (pelo menos os acordes iniciais) pela enésima vez aquela xaropada cantada por um gajo chamado James Blunt. Quando penso que já se ouviu tudo o que havia a ouvir de música pimba, surge uma piroseira destas a dizer-me que se pode sempre fazer pior.
Portanto, este regresso a coisas antigas, é assim como aquele banho refrescante que se toma ao chegar a casa, depois de um dia de calor pegajoso.