domingo, maio 20, 2007

Os blues Irlandeses

Rory Galagher sempre foi uma personalidade á parte no panorama dos rock/blues ingleses. Um dos mais ilustres guitarristas da sua geração, seguidor indefectível dos velhos bluesmen, um purista por excelência, que, contudo, nunca deixou que a sua arte estagnasse. Modesto, viveu até á sua morte de forma quase anónima em Londres, recusando sempre atitudes e hábitos de vedeta. Era "mais um" na grande cidade, apesar da carreira excepcional que protagonizava.
Este irlandês que morreu no início dos anos 90 devido a complicações após um transplante de fígado, começou por destacar-se como solista de um trio, os Taste, nascidos no final da década de 60, como réplica aos Cream, de deus Clapton. Contudo, o grupo não sobreviveria muito tempo. Dois anos depois, Rory iniciava a sua carreira a solo, desdobrando-se na edição de discos e em actuações ao vivo.
As influências da sua musica iam de Muddy Waters a Buddy Guy ou Albert King, sempre no campo impoluto dos blues, com alguns dos quais gravou discos imperdíveis.
No entanto, pode-se dizer que os restantes discos que gravou raramente fizeram jus ao seu talento. Talvez por sentir isso, cedeu a editar vários discos ao vivo. Na verdade, algumas das suas actuações ficaram memoráveis para quem assistiu, in loco ou nos registos filmados que há, nomeadamente um do qual corre um excerto no Youtube, em que Rory, que, diz-se, nunca tinha ouvido Politician, o toca somente mediante as indicações do seu parceiro de palco, o baixista Jack Bruce.
Além dos discos, de que era um fanático coleccionador, era impressionante o número de guitarras que faziam parte do seu espólio.
Por cá, parece-me que Rory nunca foi grandemente apreciado, à semelhança aliás de outros grande guitarristas, como Paul Kossof ou Robin Trower

Rory's Guitar

Rory Gallagher - Messin' with the kid

sábado, maio 12, 2007

A estrada de Katmandu

Nessa época, era inevitável, todos sonhávamos com a estrada para Katmandou, levados pela cítara de George Harrison, do Donovan ou do Brian Jones em “Paint it black“. Ou pelo Eight Miles High, dos Byrds, ou o For Your Love dos Yardbirds.
Ingenuamente, alguns de nós, desterrados num fim de mundo onde mal se conseguiam notícias do exterior, e as poucas que chegavam vinham já filtradas por um crivo severo, acreditávamos que esse percurso era feito por muitos dos nossos ídolos, na busca da inspiração. É certo que pairava no ar a estranheza ao assistirmos a cenas como a de Jimi Hendrix em Monterey…
Jimi Hendrix

…mas tudo explicávamos a nós próprios como excentricidades de génios e aplaudíamos.
Mas a estrada que pensáramos um dia nos conduziria ao paraíso da música, da paz e do amor, tinha um desvio para o inferno, e o despertar foi doloroso, quando começámos a saber do desaparecimento de alguns que venerávamos, Jimi num dia, Janis Joplin noutro, Morrison mais tarde. E muitos outros.
Mas se estes que menciono deixaram o nome gravado a ouro e mesmo gerações que não lhes foram contemporâneas os conhecem, outros desapareceram sem quase deixar notícia para a posteridade, a não ser as pegadas na memória dos que os ouviam com admiração.
È desses que falo hoje.
No dealbar da psicadelia, Los Angeles foi um alfobre de grandes talentos. De lá surgiram os Jefferson Airplane, os Moby Grape, The Mamas and the Papas e muitos ouutros. Entre eles destacou-se um grupo, The Association, composto por músicos de várias origens, que inspirados pela música dos New Christy Ministrels e pelos Serendipity Singers, e influenciados pela música que então se fazia na West Coast, tentaram a fusão dos dois estilos, do qual resultou um pop-rock baseado em acordes vocais perfeitos (alguns bem ao estilo dos Beach Boys), e linhas melódicas simples, mas de um bom gosto evidente.
Association1


The Association - Cherish
E o resultado foi um êxito notável na sua primeira aparição pública, precisamente no festival de Monterey, onde tinham como parceiros de palco nomes tão sonantes como Jimi ou Simon and Garfunkel, The Who ou Eric Burdon. Daí para a frente, fizeram uma carreira recheada álbuns de excelente nível e de tops nas tabelas de vendas, embora por cá só tivesse surgido um ou outro, e sempre através dos sempre atentos produtores do Em Órbita. Não se deve olvidar que nessa altura, a carreira de um músico ou grupo se construía mais baseado nos singles que subiam nas tabelas, que nos álbuns. Por isso, para quem os ouviu, The Association, ficaram mais conhecidos por canções como “Along Comes Mary“, “Cherish“ ou sobretudo “Windy“ e “Never my Love“, do que por “Along comes…The Association”, o seu primeiro LP, ou por “Stop your motor”.



The Association - Windy

Mas a roda da fortuna durou pouco para o septeto. Problemas com editoras e com drogas, más actuações ao vivo e por fim a morte em 1973 do seu baixista Brian Cole por overdose, foram as causas directas do progressivo eclipse da banda e no mesmo ano, o grupo desfez-se sem glória, deixando no entanto, uma obra apreciável, mas hoje, quase esquecida mesmo nos EUA .

The Association - Requiem for the masses


association poster