
Os estertores do ano de 63, trouxeram a edição do 1º disco dos
Beatles em Portugal - curiosamente um EP que não incluía aquele que tinha sido o 1º hit do grupo de Liverpool, o “
Love me do”, que seria editado mais tarde - e esse acontecimento abriria portas a descobertas extraordinárias para um meio até então fechado, e ao qual tudo o que chegava, tinha passado uma série de crivos incontáveis.
E mais alguns nomes que seriam importantes daí em diante, chegaram por seu intermédio aos meus ouvidos:
Manfred Mann,
Animals ou
Kinks. Mas verdadeiramente, 64 foi o ano do cimentar da carreira dos Beatles, que chegariam ao Natal à frente das tabelas de vendas com “
I Feel Fine”, aquela pequena obra-prima de inventiva, que começava com uma das mais famosas distorções de guitarra de todos os tempos.
Beatles - I Feel FineFoi nos finais desse ano, e graças precisamente ao meu interesse crescente pela música que ouvia, e consequentemente, da necessidade em ter acesso às líricas das canções, que verdadeiramente comecei a saber Inglês. No ano anterior, aluno do 3º ano do
Liceu Normal de Pedro Nunes (7º ano de escolaridade, na actualidade) e que era o da iniciação à disciplina de Inglês, tivera um professor chamado
Pequito, que podia ter jeito para tudo, menos para ensinar. O homem regressara nesse ano da Guiné, vinha de uma realidade muito diferente e tinha hábitos pouco ortodoxos. Para ser sincero, nós, os alunos, também não lhe facilitáramos a vida, sabe-se como os adolescentes podem ser cruéis. Resultado: passei para o 4º ano a saber pouco mais que zero. Consequência: no ano seguinte apanhei um professor exigente e vi-me enrascado.

Entretanto, descobri numa tabacaria do Rossio, uma revista inglesa chamada FABulous, que por acaso trazia na capa uma foto dos Them, o grupo de Van Morrison, e uma das minhas grandes referências de então - ouvia o single Gloria “n” vezes por dia - e comprei-a.
Them - GloriaEra a primeira vez que via uma revista que se dedicava exclusivamente à música feita na Grã-Bretanha e fiquei impressionado, tal a quantidade de informação, uma coisa absolutamente nova para mim. A partir de então, tornei-me leitor compulsivo da revista e o meu inglês foi progredindo, também ajudado pela correspondência que mantinha com uma inglesinha do Berkshire e uma alemã de Hannover. Ao mesmo tempo, passei a estar a par e passo com o que se passava pela swingin London, afinal, o olho do furacão musical que tudo varria.
Terminado o liceu e feito o balanço, cheguei à conclusão que o inglês que sabia, e que era bastante razoável, 50% devia-o á leitura de revistas inglesas, 30% à correspondência com as raparigas estrangeiras, e só 20% ao que tinha aprendido no liceu. Como nota curiosa, acrescentaria que certa vez, utilizei um termo aprendido numa das revistas, que não fazia parte do léxico da professora: veio-me perguntar o que queria dizer aquilo, porque procurara em 2 dicionários e não conseguira encontrar a palavra. Acho que devia ser “calão” londrino.
Nota: -Se se derem ao trabalho de ouvir uma gravação dos Stones dessa época, por exemplo o "It's all over now", notarão muitas semelhanças na forma de cantar de Jagger, com a do Van Morrison de então.