sexta-feira, outubro 26, 2007

Porque hoje é sexta..


…porque mo relembraram, e porque me apetece, aqui vos deixo “A Voz” dos anos 60 e…pós-anos 60.
Nunca fui um “furioso” das grandes vozes - a ópera não é para aqui chamada - , como se costuma dizer, em se referindo aquelas vozes afinadas e capazes de graves e agudos impossíveis. Mas quando me vêm com tretas sobre a voz deste ou daquele e insistem muito, atiro-lhes com o Scott Walker.
Geralmente, como praticamente só a geração dos 60 e um ou outro mais informado o conhece - o que não deixa de ser uma lacuna de proporções consideráveis na cultura musical de qualquer pessoa - a surpresa é garantida.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Canções...diferentes - The Kinks

Quem tivesse conhecido os Kinks na altura em que Ray Davies cantava o fleumático e cínico “Sunny Afternoon” e nada do que ficara para trás, teria dificuldade em os reconhecer neste quase tresloucado pedaço musical o aparentemente aprumado grupo londrino.
Nada que surpreenda muito, porém, quem conhece a conturbada existência do conjunto dos manos Davies, que incluiu o seu banimento dos EUA durante 4 anos, machadada dolorosa no futuro dos Kinks, que viu assim fecharem-se-lhes as portas do maior mercado discográfico mundial, precisamente numa altura em que se encontravam no auge da sua carreira.
A canção, da autoria de Shel Talmy, produtor do 1º LP (de 64) do agrupamento, teve uma recepção “calorosa” por parte da crítica, e “horrorosa” foi talvez a adjectivação mais suave com que a musiquinha foi presenteada.
Quando a ouvi pela primeira vez, fiquei surpreendido. Considerei-a uuma excentricidade e achei-lhe graça. Ao que parece não fui só eu, porque depois, ouvi-a um número considerável de vezes, tanto que nunca mais a esqueci, e quando pude, comprei a colectânea de que faz parte.

terça-feira, outubro 23, 2007

Assim se aprendia Inglês

Os estertores do ano de 63, trouxeram a edição do 1º disco dos Beatles em Portugal - curiosamente um EP que não incluía aquele que tinha sido o 1º hit do grupo de Liverpool, o “Love me do”, que seria editado mais tarde - e esse acontecimento abriria portas a descobertas extraordinárias para um meio até então fechado, e ao qual tudo o que chegava, tinha passado uma série de crivos incontáveis.
Em 1964, nos primeiros passos do FM em Portugal, nasceria o percursor do “Em Órbita”, o “Ritmo 64“, programa emitido na frequência modulada do Rádio Clube Português,das 21,15h até uns minutos depois das 22h. Foi aí que ouvi pela 1ª vez os Zombies de Rod Argent, e o extraordinário P.J. Proby, de que já aqui falei, capaz das maiores excentricidades, sempre exaltadas pelo Pedro Castela, muito atento - felizmente - a tais originalidades.

Zombies - She's not there
E mais alguns nomes que seriam importantes daí em diante, chegaram por seu intermédio aos meus ouvidos: Manfred Mann, Animals ou Kinks. Mas verdadeiramente, 64 foi o ano do cimentar da carreira dos Beatles, que chegariam ao Natal à frente das tabelas de vendas com “I Feel Fine”, aquela pequena obra-prima de inventiva, que começava com uma das mais famosas distorções de guitarra de todos os tempos.

Beatles - I Feel Fine

Foi nos finais desse ano, e graças precisamente ao meu interesse crescente pela música que ouvia, e consequentemente, da necessidade em ter acesso às líricas das canções, que verdadeiramente comecei a saber Inglês. No ano anterior, aluno do 3º ano do Liceu Normal de Pedro Nunes (7º ano de escolaridade, na actualidade) e que era o da iniciação à disciplina de Inglês, tivera um professor chamado Pequito, que podia ter jeito para tudo, menos para ensinar. O homem regressara nesse ano da Guiné, vinha de uma realidade muito diferente e tinha hábitos pouco ortodoxos. Para ser sincero, nós, os alunos, também não lhe facilitáramos a vida, sabe-se como os adolescentes podem ser cruéis. Resultado: passei para o 4º ano a saber pouco mais que zero. Consequência: no ano seguinte apanhei um professor exigente e vi-me enrascado.
Entretanto, descobri numa tabacaria do Rossio, uma revista inglesa chamada FABulous, que por acaso trazia na capa uma foto dos Them, o grupo de Van Morrison, e uma das minhas grandes referências de então - ouvia o single Gloria n” vezes por dia - e comprei-a.

Them - Gloria
Era a primeira vez que via uma revista que se dedicava exclusivamente à música feita na Grã-Bretanha e fiquei impressionado, tal a quantidade de informação, uma coisa absolutamente nova para mim. A partir de então, tornei-me leitor compulsivo da revista e o meu inglês foi progredindo, também ajudado pela correspondência que mantinha com uma inglesinha do Berkshire e uma alemã de Hannover. Ao mesmo tempo, passei a estar a par e passo com o que se passava pela swingin London, afinal, o olho do furacão musical que tudo varria.
Terminado o liceu e feito o balanço, cheguei à conclusão que o inglês que sabia, e que era bastante razoável, 50% devia-o á leitura de revistas inglesas, 30% à correspondência com as raparigas estrangeiras, e só 20% ao que tinha aprendido no liceu. Como nota curiosa, acrescentaria que certa vez, utilizei um termo aprendido numa das revistas, que não fazia parte do léxico da professora: veio-me perguntar o que queria dizer aquilo, porque procurara em 2 dicionários e não conseguira encontrar a palavra. Acho que devia ser “calão” londrino.


Nota: -Se se derem ao trabalho de ouvir uma gravação dos Stones dessa época, por exemplo o "It's all over now", notarão muitas semelhanças na forma de cantar de Jagger, com a do Van Morrison de então.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Reanimação

Recentemente, abri diálogo com um blog relativamente recente, o Ié-Ié, da autoria de um contemporâneo meu.
Tenho que confessar que sempre tive muito pouco apreço por esta designação - que me perdoe o Luis, autor do referido blog - com que a sociedade em geral, e alguns jornalistas e radialistas em particular, se referiam à geração 60, que tinha muito mais em si do que aquilo que se queria fazer passar. A designação tinha tanto de paternalista como de depreciativo. Pretendia-se com ela dar a entender, estar-se perante uma geração que só gostava de ouvir música, geralmente barulhenta, de uns tipos de cabelo comprido, em que o refrão yeah, yeah, era repetido á exaustão, e pouco mais.
Claro que era mais fácil - e até convinha - esquecer que as “mensagens” transmitidas tinham muito mais conteúdo que isso, que a “beat-generation” - desta gosto - tinha como gurus, homens como Woody Guthrie, que tocava uma viola que dizia “This machine kills fascists”, ou Jack Kerouack, autor da “bíblia” “On the Road”. Que Dylan cantava “Masters of war”, e Donovan, “Universal Soldier”, e que em nenhuma delas constava o infame refrão.
Mas a possível urticária que a designação me possa causar, é largamente suplantada pelo prazer que dá revisitar certas situações e factos, umas há muito esquecidas, outras simplesmente arrumadas num cantinho sossegado da memória.
Foi este saldo positivo entre o deve e haver, que me deu a vontade necessária para reanimar este blog, que muito estimo, apesar do aparente esquecimento a que ultimamente o votei.
Portanto, um bem haja ao Luís, que me tentou a ressuscitar a caixinha da música.

The Freewheelin' Robert Zimmerman

Quando Robert Zimmerman lançou o seu primeiro LP, nada fazia prever que, em breve, o homem que foi buscar para seu apelido artístico, o primeiro nome do celebrado poeta Dylan Thomas, se tornaria num dos grandes nomes da música do século XX.
Com efeito, tratava-se de uma colectânea que reunia umas poucas “covers” de canções folk, às quais juntou uma ou duas de sua autoria, com muito pouca relevância.
Mas o que viria a seguir, seria memorável. “The Freewheelin’ Bob Dylan”, juntava uma colecção de canções inspiradoras, algumas das quais se tornariam verdadeiras “bandeiras” de uma geração engajada e politicamente evoluída, que entendia que tinha o direito a ser ouvida. Uma geração que abandonaria os salões onde dançava o rock and roll ao som de Bill Haley e Elvis Presley, e viria para as ruas protestar contra as guerras, as desigualdades e a discriminação racial.
O disco, editado em Novembro de 63, reunia, entre outras, canções como “Blowin’ in the Wind”, “Don’t think Twice, it’s alright”, que na década seguinte, e até terminar a guerra do Vietnam, foram entoadas vezes sem conta, em manifestações com lugar em Washington ou S. Francisco, em Londres ou Paris, e alvo preferencial de “covers” dos mais diversos artistas.
Numa época em que os Beatles conquistavam a América, e toda a gente ligada ao show-business queria encontrar quem fizesse sombra aos Fab Four, Dylan sabia que seria ele a “next big thing”. E disse-o em voz alta.
De um momento para o outro, o rapaz que dedilhava sofrivelmente viola acústica e tocava uma harmónica que trazia pendurada nos ombros, o jovem de cabelo rebelde e voz roufenha, tornava-se num ícone mundial, e os seus poemas, entravam para a galeria dos poetas obrigatórios nas universidades americanas.
Curioso, no meio da riquíssima história de Dylan, é o facto de, tendo sido algumas das suas canções, hinos daquela geração contestatária, nunca ele ter tomado parte em qualquer manifestação daquele tipo, ao contrário de outros nomes, como Joan Baez ou Donovan Leitch.