Incontornáveis/1964 (2ª parte)


Em “Another Side…”, Robert Zimmerman faz a aproximação a um lirismo a que até então pouco tinha denunciado na sua poesia, e a parte melódica aparece mais cuidada.
“All I really want to do”, de que os Byrds farão mais tarde uma cover notável, ou “It ain’t me babe”, são já prenúncio das mudanças que se iriam verificar em breve na música de Dylan. O título do álbum aparece como um prenúncio Os Beatles e os Stones, lançavam depois do meio do ano, novos álbuns. O dos Beatles, “Beatles for sale”, é um dos últimos em que o grupo de Liverpool ainda inclui algumas covers de grandes nomes do r’n’roll, como “Rock and roll music”, de Berry, ou “Honey don’t”, de Carl Perkins. Mas é sobretudo uma viagem ao lado mais “escuro” de Lennon, em “I’m a loser” ou “Baby’s in black”. Para equilibrar, faixas como “I’ll follow the sun” ou “Every little thing”, trazem de volta o universo feliz dos Beatles de “A hard day’s night”. Um disco com muitas faces, que perfazem um todo fora do comum.
A propósito do 2º álbum dos Stones, quero referir que, e dando razão á nota aqui deixada pelo meu ilustre leitor JC na resposta ao post precedente, por vezes os discos editados por um qualquer grupo na Grã-Bretanha ou nos EUA diferirem no alinhamento, sendo que em alguns casos a diferença era significativa. Como tal, os que nomear futuramente aqui, serão sempre aqueles que possuo (uma nota para referir que não sou coleccionador - não tenho queda nenhuma para ser coleccionador de nada, quando muito, um ajuntador, pelo que é raro possuir mais que um exemplar de cada disco, e por mero acaso, algumas das ressalvas concerne precisamente aos RS).
Voltando aos Stones, o “Rolling Stones 2”, trata-se de um trabalho que se poderia considerar quase um prolongamento do anterior: excelentes covers de clássicos dos r’n’blues como “Under the boardwalk”, (Resnyck e Young), “Suzie Q” (Walkins e Lewis) ou “Pain in my heart” (esta, uma excelente versão da bela canção de Toussaint,
que teria muitas mais, das quais destacaria a imortal interpretação de Otis Redding). Por outro lado, a dupla Jagger e Richards “atrevia-se” mais um pouco na composição, e incluía no disco 3 originais, dos quais destacaria “Off the hook”, talvez o mais conseguido de todos. (a outra edição deste Lp chamou-se 12X5 e tinha um alinhamento consideravelmente diverso deste).Outra das produções marcantes do ano, foi o 1º Lp do grupo pelo qual passou o maior número de guitarristas de excepção, sendo que o primeiro se chamava Eric Clapton. O Lp, “Five Live Yardbirds” foi gravado ao vivo no Marquee Club, o que não era nada habitual na altura, o que faz dele, e só por si, um álbum muito importante. Diga-se que o reportório dos Yardbirds não divergia muito do dos outros grupos de r’n’b, e isso reflectiu-se bem nessa primeira gravação, donde se destaca um excelente “I’m a man”. O que na altura os distinguia dos demais, era realmente a qualidade insuperável do seu viola solo, que os abandonaria algum tempo depois, insatisfeito com o rumo mais exploratório de novos sons e menos fiel aos blues, em que o grupo decidiu investir
Mais 3 Lp’s assinaláveis do ano:



Começo pelo das Supremes (uma das tais batotas). Este grupo vocal feminino liderado por Diana Ross conseguiu a proeza de competir em termos comerciais com os Beatles, o que não era mesmo nada fácil, e só por isso já mereciam a menção. Mas o Lp é mais que isso. Ou por outra, demonstra porque é que tal acontecia. É um desfilar de grandes êxitos, a maioria assinados pelos irmãos Dozier e Holland, uma das mais extraordinárias alianças de compositores/produtores de sempre.
Quanto aos Dave Clark Five, e curiosamente, o apontamento também tem relação com os Beatles. Com efeito, por essa altura na Grã-Bretanha e durante algum tempo, pensou-se que os Dave seriam a “next big thing” e que seriam eles a competir directamente com os Beatles a nível de popularidade. Puro engano. A consistência não era assim tanta, e o reinado dos Dave foi de curta duração. Mas este Lp é realmente muito agradável, uma explosão de alegria e r’n’roll límpido e bem tocado.
Deixei para o fim o meu preferido, o dos Zombies, talvez por ser, dos três o preferido. Os Zombies fazem parte do meu imaginário, com as suas melodias maravilhosas, jamais igualadas no seu tempo por qualquer outro grupo da sua dimensão. De “She’s not there”, a “Tell her no”, viajamos por uma espécie de 5ª dimensão musical que vale a pena fazer.